Consertador de brinquedos transforma sua oficina em
hospital, com emergência e berçário
Crianças ligam para saber dos
‘pacientes’ e têm direito a horário de visita
POR CAROLINA CALLEGARI
10/11/2014 9:00 / ATUALIZADO 10/11/2014
16:51
Rio— Há 25
anos, Luiz Carlos Alves Espinoza se deparava com seu primeiro caso de
emergência: um carrinho de controle remoto que não conseguia andar. O
atendimento foi feito às pressas, na sala sem preparo onde Espinoza trabalhava
como chaveiro após ver sua profissão de mecanógrafo chegar ao fim, com a
substituição da máquina de escrever pelo computador. Por sorte, os primeiros
socorros foram aprendidos na infância, quando o futuro médico de brinquedos
consertava os poucos que tinha e construía novos com madeira e lata.
— Consertei o brinquedo do filho de uma
cliente e ela ficou tão maravilhada que começou a falar para todo mundo o que
eu tinha feito. A partir daí, toda semana, apareciam brinquedos para eu
consertar — conta o doutor Luiz, que atende bonecas, robôs, carros, trens, jogos
e pacientes de muitos outros tipos.
Durante 17 anos, os tratamentos eram
feitos em uma sala comum. Com a crescente demanda, Luiz inaugurou o Hospital de
Brinquedos, na Taquara, há oito anos. E o lugar faz juz ao nome: a unidade
conta com sala de raio x, onde são tiradas fotos para registrar o estado do
paciente ao dar entrada; emergência; centro cirúrgico; ortopedia, local dos
atendimentos; e berçário para internação. Casos mais graves ainda contam com
uma UTI Móvel, como é chamado o carro que o profissional usa para pegar em casa
seus pacientes. Luiz ressalta que, afinal, “consertar brinquedo não é
brincadeira”:
— As crianças trazem o brinquedo
enrolado numa manta, ficam o tempo todo do meu lado e ligam para perguntar
sobre o estado de saúde dele. Sábado é dia de visita. Os brinquedos são
passados de pais para filho e fazem parte da formação do indivíduo.
A chegada de eletrônicos da China fez
com que o atendimento caísse em torno de 40%. A dificuldade de achar peças e o
baixo custo dos novos brinquedos fazem com que o tratamento nem sempre valha a
pena, no entender dos donos. Apesar da queda, Luiz quer inaugurar “UPAs” em
Caxias e Campo Grande:
— O sorriso da criança quando pega o
brinquedo de volta não tem preço. Elas acreditam neste ambiente. Eu queria
começar a restaurar o sonho das crianças e estou conseguindo.
A profissão foi
passada para os filhos Erick e Lais Espinoza - Bia Guedes / Agência O
Globo
Os filhos estão seguindo os passos do
pai. Erick Alves Espinoza é o “médico” especializado em mecânica e eletrônica,
atendendo principalmente robôs e motos. Já Lais Nogueira Espinoza está
encarregada da área dermatológica: cuida da limpeza e higienização. E Julio
César Alves Espinoza auxilia em épocas de maior movimentação; daí ser chamado
de “residente” do hospital. A ex-mulher de Luiz, Solange Alves, é encarregado
do raio x. E, no berçário, a responsável é a sorridente enfermeira Ana Paula,
uma boneca.
— Hoje, os brinquedos são eletrônicos,
como videogames; as crianças querem tablets e smartphones. Mas algumas pessoas
ainda guardam os tradicionais com todo o cuidado para passar aos filhos — diz o
Erick.
Na ala de internação, são encontrados
até pacientes nascidos na década de 70. Carros de controle remoto dos modelos
Pegasus e Maximus, geralmente, precisam de reparos na parte elétrica. O
clássico jogo Genius ainda desafia a memória e agilidade das gerações mais
novas e dos saudosistas. Até mesmo estrelas da Disney, como o caubói Woody, de
Toy Story, baixam por lá.
— No orçamento, tentamos não
ultrapassar 20% do valor do brinquedo novo, justamente para estimular o
conserto — conta Luiz.
O Hospital de Brinquedos fica na
Avenida Nelson Cardoso 275, Taquara. Tels.: 2456-1868 e 2456-1950.
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