30/09/2022
No mês da inclusão social,
funcionários do Hospital São José falam sobre sua rotina de trabalho e
preconceitos que já tiveram que superar
O mercado de trabalho ainda é
exclusivo quando o assunto são pessoas com deficiência. Apesar de existir uma
lei que exige que as grandes empresas tenham parte do seu corpo de funcionários
sendo pessoas com deficiência (PCD), o número ainda é bem baixo e desmotiva
muitos a saírem na busca por independência e melhores condições de vida.
Para tentar minimizar esse problema e
aumentar as oportunidades e inclusão destas pessoas, muitas campanhas surgem a
fim de conscientizar a população em geral. Uma delas é o setembro verde, que
visa reforçar a luta por direitos e inclusão das pessoas com deficiência.
No Hospital São José, em Teresópolis,
a inclusão é uma das bases da instituição, que possui funcionários PCDs e busca
dar todo o suporte e qualidade de trabalho para os mesmos. É o caso do Julio
Carvalho, que trabalha no setor de serviços de prontuários do paciente há quase
17 anos. O assistente de documentos e pesquisa é deficiente auditivo.
Julio conta que sua relação com os
outros funcionários do hospital é muito boa. Eles o aceitam do jeito que é e
compreendem suas necessidades e dificuldades. Contudo, nem sempre foi assim. O
assistente conta que muitas vezes já passou por situações vexatórias e de
preconceito.
¨Muitos não entendem e nem respeitam
um deficiente. Por causa da minha deficiência auditiva, muitos não têm
paciência de me explicar as coisas. As pessoas às vezes esquecem a minha
deficiência e simplesmente fica por isso mesmo¨, explicou o funcionário.
Durante a pandemia, uma nova
dificuldade surgiu na rotina do deficiente. O uso de máscaras dificultou a sua
compreensão das conversas e gerou mais intolerância e preconceito em um momento
em que o mundo necessitava de empatia e amor.
¨̈O uso de
máscaras
dificultou muito a minha vida, pois faço uma leitura labial para dar o melhor entendimento. Muitas pessoas se
recusam a abaixar a máscara
para conversar comigo e ainda ficam chateadas quando eu não compreendo ̈, relatou.
Outro funcionário do Hospital é o
Lucas Tavares, de 23 anos, que possui escoliose e trabalha no São José há mais
de 4 anos. Ele ocupa o cargo de operador de atendimento no setor de telefonia e
conta que desde os 11 anos, quando foi diagnosticado com a doença, vem lutando
para enfrentar os preconceitos.
¨O período da adolescência foi o mais
conturbado para mim, quando falamos em preconceito. Sofri muito bullying. Me
tornei uma pessoa muito reclusa e tímida, a ponto de não querer fazer
atividades na escola ou ir em certos locais sozinho. Fazia de tudo para sair do
foco, desviar os olhares de mim¨, contou Lucas.
O operador conta que conseguir um
emprego foi fundamental para o seu desenvolvimento pessoal e para que
conseguisse se aceitar e sair do isolamento em que vivia. Por isso, ele
encoraja outros jovens e adultos PCDs a se darem uma chance e buscarem um
emprego.
¨A maior compensação é saber a pessoa
que me tornei depois daqui. Ter uma renda e estar trabalhando é legal, mas
sentir-se digno, capaz de criar a própria história, de deixar um legado não tem
preço. O meu conselho pra quem está receoso, é que faça. Distribua currículos,
estude, invista em você, a gente é mais que rótulos e, no fim das contas, a
deficiência é só um detalhe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário