plasamed

plasamed

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Tecnologia pode ser aliada no enfrentamento de desafios na área da saúde



 25/10/2021

O crescimento populacional, a desigualdade no acesso e gastos que aumentam a cada ano são desafios na área da saúde em todo o mundo. Para mudar esse cenário e nos preparar para o futuro, especialistas explicam que é necessário repensar a forma como fazermos saúde. “Em 2017, a OMS deixou claro que não temos tempo hábil para formar mais médicos e acompanhar a demanda mundial da saúde”, disse Guilherme S. Hummel, head mentor no eHealth Mentor Institute (EMI), durante a palestra ‘Tecnologia associada à força de trabalho na saúde e os desafios da usabilidade’, realizada no Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp). A mesa também contou com Eduardo Cordioli, gerente médico do Hospital Israelita Albert Einstein, Robson Capasso, reitor associado, chefe de cirurgia do sono e professor da Universidade de Stanford e Romeu Cortes Domingues, conselheiro Anahp, presidente-executivo do Conselho de Administração da DASA e moderador do debate.

O professor da Universidade de Standford trouxe dados de pesquisas realizadas nos Estados Unidos que nos permitem traçar alguns panoramas e conclusões, ainda que cada país tenha suas especificidades. “De tudo o que se gasta com saúde globalmente, 78% são consumidos por apenas 18% da população e, observando os Estados Unidos, existe uma disparidade no acesso à saúde e não existe quem pague os gastos financeiros, que a cada ano aumentam mais”, diz Robson Capasso.

Uma importante questão é também o crescimento populacional, que traz impactos em diversos setores e principalmente o da saúde, uma vez que todo individuo em algum momento da vida precisará de atendimento médico. “O déficit de acesso da saúde no mundo é o que causa a inflação de custeio na área médica e é um fator incontrolável até o final do século, pois não existirá um equilíbrio entre a demanda e a oferta. Precisamos nos planejar para uma cultura em que a função médica será mais de instruir e educar, do que de cuidador, pois precisamos que os indivíduos sejam mais independentes e conheçam a saúde básica”, complementa Guilherme Hummel.

Sobre os gastos na área da saúde, é possível traçar uma relação entre os países que gastam mais e o modelo de gestão utilizado. “Em países como França, Inglaterra e Alemanha, até os 65 anos de idade se gasta mais em saúde por pessoa do que nos Estados Unidos e, ainda assim, estes têm um gasto reduzido pela metade ao compararmos com o último país. A partir disso, vemos que esses países da Europa são geridos a partir de uma cultura preventiva e não reativa, mostrando que a medicina preventiva é capaz de detectar fatores de risco antes de um evento agudo, com isso o esforço e gastos feitos na prevenção é menor do que os feitos após a manifestação do evento”, explica Eduardo Cordioli.

Os palestrantes concordam que para atendermos às necessidades globais de saúde precisaremos atuar em times multidisciplinares, com variedade de médicos e outros profissionais, como os programadores e cientistas de dados. Uma solução proposta foi a educação da população para desde cedo conhecermos a saúde básica, garantindo maior independência e diminuindo a demanda na saúde. Além disso, citaram também a importância da telemedicina nesse processo e como os médicos precisam constantemente se educar para oferecerem atendimentos eficazes através das tecnologias.

Pandemia mostrou que telemedicina deve se manter como uma opção para o paciente

A pandemia trouxe de uma vez só uma série de situações novas para a população mundial. O que para alguns setores profissionais abriu caminhos de forma mais lenta, para a saúde, as mudanças exigiram decisões urgentes. Foi dessa demanda que surgiram inovações capazes de mostrar caminhos que devem se manter e outros que precisam ser desenvolvidos. O tema foi discutido no Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), durante a palestra ‘Como a pandemia acelerou as inovações e tecnologias em saúde’, que teve a moderação de Fernando Ganem, diretor geral do Hospital Sírio-Libanês e a participação de Diogo Dias, diretor clínico do Hospital Porto Dias, Joel Formiga, country manager na MphRx e ex-coordenador de inovação digital da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e Marco Bego, diretor executivo do Instituto de radiologia do InovaHC.

“A inovação começa pela necessidade do cliente, nasce da demanda e não da tecnologia”, afirmou Joel Formiga durante sua fala no evento. Ele atuou na linha de frente junto a outros profissionais quando a pandemia no Brasil estava em sua pior fase. “A primeira percepção que tivemos na Secretaria de Estado da Saúde foi que os dados precisavam ser valorizados, organizados, turbinados e principalmente compartilhados. Ou seja, precisávamos valorizar a informação”, conta.

Uma constatação que foi compartilhada por todos os participantes: a aceitação de canais digitais para tratar da saúde foi uma barreira ultrapassada por médicos e pacientes. Na opinião de todos, a telemedicina, que teve ampla aceitação e larga utilização, já apresentou diminuição. Mas, segundo observação de todos os profissionais, o uso da tecnologia deve continuar acima do período anterior à pandemia.

“Os canais digitais vão se estabilizar nessa nova realidade como os principais meios de comunicação e resolução de problemas, quando não forem os únicos”, conta Formiga. “A telemedicina é uma ferramenta que veio para ficar e muda o jogo para permitir o tratamento integrado. É fato que dessa primeira imersão nessa jornada já saímos com uma série de empresas que, inclusive, vão trabalhar apenas nessa vertical”, acrescenta Diego Dias.

Em outra frente, mas que também ganha a concordância entre os participantes, está a organização dos dados e aplicação de inovações. “Durante a fase mais crítica da pandemia, tínhamos quase 70 inciativas inovadoras nos processos que adotávamos. Passada essa fase, temos 20 atualmente. Nosso maior desafio foi fazer com quem as linguagens – tecnologia e medicina – se falassem sem obstáculos. Hoje, percebemos que conseguimos fazer essa ponte”, finaliza Marco Bego.

A convivência harmônica entre o compartilhamento de dados e a privacidade é um dos maiores desafios atuais

A Lei Geral de Proteção de Dados sancionada em 2020 apontou quais devem ser os rumos do uso de dados no Brasil. Entretanto, ainda há uma ‘zona cinzenta’ sobre o assunto, como diz Fábio Cunha, coordenador do Grupo de Trabalho Legal-Regulatório da Anahp e diretor Jurídico, Compliance, Relações Governamentais e ESG na Dasa, que foi moderador da plenária ‘Governança de dados com o avanço das inovações trazidas por novas tecnologias’, realizada no Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp). O debate contou também com a presença de Rogéria Leoni Cruz, coordenadora do Grupo de Estudo de LGPD da Anahp e diretora jurídica do Hospital Israelita Albert Einstein, Barbara Ubaldi, head de digital e governança de dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) e de Waldemar Ortunho Junior, diretor-presidente da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).

Um dos pontos principais levantados pelos participantes foi o conflito de interesses comerciais que ameaça o compartilhamento desses dados entre os sistemas privado e público, por exemplo, se configurando em um obstáculo que deixa de ser técnico. Para Barbara, o uso dos dados faz parte das transformações digitais do mundo todo e deve ser entendido como um recurso chave para todos os setores. “O crescimento com o uso de dados é muito mais preciso. É essencial abrir as informações para o setor público, com esforços combinados os resultados são melhores e as decisões mais coerentes”, afirma.

Outro obstáculo se relaciona com a cultura, ou seja, com o risco de armazenar e o medo de ter um vazamento desses dados geram. De fato, o risco existe, mas para o presidente da ANPD, Waldemar Ortunho Junior, “é fundamental usar novas tecnologias mitigando esses riscos, com técnicas que vão proteger os dados que oferecem mais atratividade ao invasor”.

Na mesma trilha, segue o ponto de vista de Rogéria Leoni Cruz. “Lidamos com dados sensíveis e a medicina tem se inovado. Temos que dar oportunidade para essas mudanças, mas, ao mesmo tempo, temos que lidar com a privacidade e a segurança. Muitas organizações já estão conseguindo enxergar as vantagens práticas de uma segurança de dados, seja por uma melhor estratégia ou pela melhor organização e confiança do cliente. Isso aprimora a tomada de decisões, e permite uma gestão efetiva de riscos”, conta.

“Reduzir desigualdades e disparidades por meio da inteligência artificial é um dos principais objetivos. Os cuidados devem chegar a todos”, diz Greg Corrado, neurocientista e pesquisador do Google

Por trás de cada tecnologia que utilizamos hoje como a leitura de código de barras pelo celular, decodificação de áudios em textos e os próprios avanços nos estudos da inteligência artificial estão pessoas, pesquisadores comprometidos a tornar a vida melhor. A inteligência artificial está em desenvolvimento no mundo e a utilização dela para área da saúde pode resultar em ganhos imensuráveis. Greg Corrado é neurocientista do Google e encerrou o ciclo de palestras desta edição do Conahp e quem mediou a apresentação foi o vice-presidente da Comissão Científica do Conahp2021, Charles Souleyman.

De forma geral, a inteligência artificial já está na palma de nossas mãos. Pelo celular podemos acessar o Google Fotos, por exemplo, e ver agrupamentos e pesquisas sofisticadas de reconhecimento facial a partir de qualquer aparelho. Outra forma de vermos a inteligência artificial sendo aplicada é por meio da capacidade dos celulares de entenderem idiomas, traduzirem conteúdos e aceitarem comandos somente a partir da voz humana, com toda as variações que elas possam ter.

A inteligência artificial, segundo Greg, pode ser pensada como útil tanto a usuários quanto a empresas. Para a maioria das ações atuais, mesmo as repetitivas e complexas, a programação dos computadores facilita a rotina. A parte mais profunda da inteligência artificial é que já podemos construir máquinas capazes de aprender com os dados. Atualmente, o Google lê imagens a partir de pixels, há softwares capazes de reconhecer qualquer discurso humano e, ainda, traduzir falas para outros idiomas de forma quase automática. Todos esses sistemas foram aprimorados com o tempo. Eles passaram por um processo de aprendizagem por meio da inteligência artificial.

“Muita gente acha que a inteligência artificial é feita para prever as coisas. Talvez fosse mais acurado dizer que a grande função dela seja reconhecer as coisas”, afirma Greg. Os dados trabalhados pela inteligência artificial facilitam o reconhecimento de forma intuitiva, por exemplo, de uma categoria ou condição. A máquinas aprendem ao imitar modelos. Se quisermos criar um sistema capaz de reconhecer imagens de gatos e cachorros, por exemplo, precisamos dar a ela modelos básicos desses animais.

Na relação desse tipo de inteligência com a capacidade de aprendizagem humana, a base está num método conhecido como ‘deep learning‘. Isso é basicamente a reencarnação de uma tecnologia chamada de redes neurais artificiais que existe desde 1980. E esse modelo se baseia em como humanos aprendem as coisas, na forma como a capacidade humana processa o aprendizado. Nesse modelo, cada neurotransmissor se associa a outros formando redes artificiais ou neurais capazes de fazer com que as tarefas programadas sejam realizadas.

“As máquinas hoje, por exemplo, podem enxergar. É possível categorizarem imagens, localizarem e descreverem conteúdos imagéticos. Nesse sentido, é possível que essa tecnologia seja usada para ler imagens médicas, reconhecer deformidades, exames e facilitar a compreensão de fraturas, por exemplo”, anuncia Greg.

Uma das medidas citadas pelo neurocientista em relação ao trabalho desenvolvido pelo Google na área da saúde tem relação com o diabetes e foi desenvolvido com parceiros na Índia. Na região onde o experimento foi feito havia poucos profissionais capazes de fazerem o diagnóstico da doença através da retina dos pacientes. Assim, máquinas foram desenvolvidas para serem capazes de realizar um tipo de triagem diagnóstica. Foram tiradas 130 mil imagens de retinas e, com a ajuda de profissionais, o nível de diabetes foi categorizado. O resultado foi o desenvolvimento de um sistema capaz de verificar a doenças em pacientes de forma bem próxima a percepção de médicos treinados.

Segunda analisa Greg, as inteligências humana e das máquinas são complementares. Enquanto humanos são excelentes em extrapolar a partir de um pequeno número de exemplos, as máquinas são muito eficazes fazer interpolação dentro de muitos exemplos. Máquinas programadas com grandes quantidades de dados históricos e humanos são melhores em eficiência analítica.

É preciso perceber que esses sistemas de inteligência artificiais não são caixas pretas inacessíveis e cujo conteúdo interno seja completamente desconhecido. “A gente acredita que os sistemas artificiais podem colaborar com as pessoas da mesma forma que as pessoas colaboram entre si”, diz o neurocientista. Esse tipo de inteligência seria capaz, inclusive de explicar o porquê de escolher categorizar suas percepções a partir de sua programação. “Voltando ao exemplo do diagnóstico de diabetes, por exemplo, o sistema pode mostrar a causa pela qual escolheu categorizar a doença no indivíduo como moderada”, afirma Greg.

Outros caminhos são possíveis para estreitar o relacionamento de forma ainda mais próxima entre a gestão de dados e a medicina. Dentre eles estão os processos de criação de medicamentos que utilizam dados, identificação de erros de amostragens ou mesmo feitura de triagens. Em última instância, o valor do uso da inteligência artificial estaria na criação de um sistema de saúde de aprendizagem. O ideal é que cada vez que se atende um paciente, a experiência seja melhorada para um próximo paciente. Os sistemas de machine learning podem nos dar diretrizes importantes para aumentar a eficácia do sistema como um todo e melhorar a experiência de quem os utiliza.

Sobre a atuação do Google na pandemia, o neurocientista ressaltou que a empresa percebeu a importância da informação correta e que, utilizada na hora certa, pode salvar vidas. Sobre o uso do Google no autodiagnóstico dos usuários, Greg alertou que “apesar das ferramentas e informações estarem disponíveis, há um jeito certo de usá-las. É complexo. Nossa jornada na saúde é entender o papel da tecnologia e o papel que ela não é capaz de desempenhar”, analisa o neurocientista. “Eu acredito que vai levar muitos anos, mas, no futuro, seremos capazes de estar em um lugar onde a tecnologia será mais utilizada, difundida e confiável. Há muito para se caminhar, mas é possível sonhar com uma medicina preventiva em nível global, com o apoio e o trabalho de muitas pessoas e instituições”, finaliza.

domingo, 24 de outubro de 2021



22/10/2021

A pandemia de Covid-19 mudou o comportamento do consumidor e trouxe novas necessidades, inclusive na área de saúde. Se antes o cuidado era sinônimo de ir aos consultórios e hospitais, agora a sociedade vive uma realidade de atendimentos presenciais mais seletivos. Os fatores para essa mudança incluem desde o medo da exposição ao vírus à lotação dos hospitais, sobrecarregados com o atendimento aos pacientes infectados pelo novo Coronavírus e, consequentemente, reduzindo consultas que não são urgentes.

Essa mudança no comportamento dos consumidores não significa, contudo, que os investimentos em saúde diminuíram. Pelo contrário. Em 2019, no último levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao ano de 2017, constatou-se que o investimento em saúde no país chegava a R$ 608,3 bilhões, representando 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Agora, em 2021, a estimativa é de que esses gastos estejam em torno R$ 770 bilhões, equivalente a 10% do PIB. Desse total de investimentos, 41% são feitos pelo governo e 59% pelas famílias.

Enquanto os números seguem crescendo, os tipos de serviço preferidos pelos usuários mudaram. Cirurgias eletivas diminuíram, enquanto a atenção domiciliar vem ganhando força. Trata-se de uma tendência de cuidar da própria saúde dentro de casa. Desde o começo da pandemia, em 2020, o setor de home care registrou crescimento de 35%, de acordo com estudo divulgado pelo Núcleo Nacional de Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (Nead) 2019/2020. Espera-se que o crescimento continue em 2021.

O aumento já é sentido nesse segmento do mercado. As empresas de home care no Brasil somam uma receita anual estimada em R$ 10,6 bilhões, indicam dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e do Nead. Da receita total, 57,5% se referem a internações domiciliares (que custam, em média, 35% menos do que as hospitalares).

Por isso, oferecer atendimento técnico a pacientes que já vêm sendo atendidos por hospitais e agora se encontram em uma segunda fase de tratamento significa dar continuidade ao atendimento hospitalar dentro de casa, com acompanhamento e autorização de médicos especializados, garantindo o cuidado apropriado para cada caso.

A humanização do atendimento é um aspecto cada vez mais almejado pelos usuários, que valorizam um contato mais estreito entre os profissionais de saúde, pacientes e familiares, prezando pelo bem-estar e qualidade de vida. Esse aspecto é especialmente importante para o brasileiro: no país, 63% das pessoas procuram por um atendimento mais humanizado, contra 44% na Espanha e 34% na Itália, por exemplo.

A realidade trazida pela pandemia de SARS-CoV-2 explicitou aquilo que é mais importante para o consumidor, que tende a evitar riscos de exposição sem abrir mão dos cuidados com a saúde. Os usuários estão tomando as rédeas da própria saúde e buscando alternativas que melhor se adaptam às suas necessidades.

Então, neste cenário o home care se torna um serviço que se adapta perfeitamente à nova demanda. Enquanto descentraliza o atendimento (diminuindo as lotações dos hospitais), leva suporte seguro e profissional aos pacientes, com o conforto de estar em um local aconchegante e familiar: o seu próprio lar. Além disso, durante o atendimento os profissionais podem voltar toda a atenção para um único paciente, respeitando sua individualidade e tornando a assistência muito mais personalizada e humana.

Emerson Lunardelli é CEO da Lar e Saúde

 


Boletim Covid-19: ocupação geral de leitos para atendimento à doença segue em queda

 


22/10/2021

Está disponível no portal da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a edição de outubro do Boletim Covid-19, que traz dados sobre o comportamento do setor de planos de saúde durante a pandemia de Covid-19.

Neste número, a publicação chama a atenção para a continuidade do crescimento de beneficiários em todas as modalidades de contratação do plano, evidenciando o interesse dos brasileiros no acesso à saúde suplementar. Os indicadores assistenciais mostram a contínua queda nos leitos alocados para atendimento à Covid-19, desde abril de 2021. Dentre as informações econômico-financeiras, são informadas a sinistralidade no período e inadimplência, cujas taxas se mantiveram estáveis. Quanto às demandas dos consumidores, destaca-se queda no registro de reclamações relacionadas à Covid-19.

A edição de outubro traz ainda uma prévia do número de beneficiários em planos de assistência médica relativa a setembro e demandas dos consumidores recepcionadas pela ANS através de seus canais de atendimento.

O objetivo da publicação é monitorar a evolução de indicadores relevantes do setor de planos de saúde nesse período, subsidiando análise qualificada da agência reguladora e prestando mais informações à sociedade.

Clique aqui para acessar a edição de outubro do Boletim Covid-19 – Saúde Suplementar

Evolução de beneficiários 

O número preliminar de beneficiários em planos de assistência médica relativo segue a tendência de crescimento observada desde julho de 2020. Em setembro, foram registrados 48.566.216 beneficiários em planos de assistência médica, aumento de 0,39% em relação a agosto. A taxa de adesão (entradas) no total, considerando todos os tipos de contratações, é superior à taxa de cancelamento (saídas) nos planos médicos hospitalares. O tipo de contratação responsável por esta superioridade é o coletivo empresarial que se mantém, desde julho de 2020, com mais entradas do que saídas de beneficiários.

Considerando o tipo de contratação do plano e a faixa etária do beneficiário, observa-se que a variação foi positiva para os beneficiários acima de 59 anos em todos os tipos de contratação ao longo dos meses de março de 2020 até setembro deste ano.

Informações assistenciais

A proporção de leitos alocados para atendimento à Covid-19 nos hospitais da amostra de operadoras segue a tendência de queda que vem se observando desde abril de 2021, atingindo patamar inferior ao observado em outubro de 2020, quando teve início a segunda onda.

A taxa mensal geral de ocupação de leitos, que engloba tanto atendimento à Covid-19 como demais procedimentos, se manteve em 71% em setembro, abaixo do patamar observado em setembro de 2019 (pré-pandemia). A ocupação de leitos comuns e de UTI para casos de Covid-19 apresentou queda significativa em setembro, enquanto a ocupação de leitos para demais procedimentos manteve estabilidade.

A busca por exames e terapias ficou 10,6% acima do observado para o mesmo mês em 2019. A retomada da realização de exames e terapias eletivas é compreensível, diante da postergação desses atendimentos em 2020, bem como desejada, para que haja a continuidade do cuidado, detecção e tratamento precoces de doenças para o adequado acompanhamento de pacientes crônicos.

Exames

Dos dados sobre realização de exames de detecção de Covid-19, extraídos da base do Padrão TISS (Troca de Informação de Saúde Suplementar), destaca-se que, o número de exames RT-PCR realizados em junho/2021 sofreu uma redução de 12,1 % em relação ao mês anterior, retornando ao patamar de novembro/2020. No caso dos exames de pesquisa de anticorpos, a queda foi ainda maior, com redução de 25,8% entre maio e junho de 2021.

Informações econômico-financeiras 

O índice de sinistralidade trimestral apresentou leve aumento na comparação com o mesmo trimestre de ano pré-pandemia (3º trimestre de 2019) (82% x 83%). Porém, a prévia da taxa de sinistralidade de caixa anual em 2021 foi de 78,6%, ainda 2 p.p. inferior ao índice de 2019. A ANS permanecerá monitoramento a evolução desses dados no setor.

Em setembro de 2021, tanto os dados de inadimplência de planos com preço preestabelecido, como os para planos individuais/familiares e para coletivos, permanecem próximos dos seus patamares históricos.

Demandas dos consumidores

Os dados de setembro de 2021 mostram uma redução de, aproximadamente, 3,2% no total de reclamações registradas nos canais de atendimento da ANS em relação ao mês anterior. Quanto às demandas relacionadas à Covid-19, a redução foi ainda maior. Em setembro de 2021, a Agência registrou o menor número de reclamações sobre o tema desde março de 2020. Do total de reclamações relacionadas ao coronavírus, 44% dizem respeito a dificuldades relativas à realização de exames e tratamento para a doença.

No portal da reguladora, é possível acessar o monitoramento diário das demandas sobre Covid-19.

Consulte o monitoramento diário das demandas sobre Covid-19

Dados 

Para a análise dos indicadores assistenciais, a ANS considerou informações coletadas junto a uma amostra de 49 operadoras que possuem rede própria hospitalar. Para os índices econômico-financeiros, foram analisados dados de 105 operadoras para o estudo de fluxo de caixa e análise de inadimplência. Juntas, as operadoras respondentes para esses grupos de informação compreendem 74% dos beneficiários de planos de saúde médico-hospitalares. Adicionalmente, na construção do boletim, foram utilizados dados do Documento de Informações Periódicas (DIOPS), do Sistema de Informações de Fiscalização (SIF) e o Sistema de Informação de Beneficiários (SIB).

Confira as outras edições do Boletim Covid-19


sábado, 23 de outubro de 2021

Investimento em políticas e cuidados em saúde mental são essenciais para ESG

 


22/10/2021


A ênfase em olhar para o ESG (Environmental, Social and Governance) tem se tornado uma realidade cada vez mais presente no Brasil. Para além de um olhar para o impacto socioambiental e para o papel social das empresas no que diz respeito ao meio ambiente, às relações sociais e à governança, a proposta também se conecta (e muito) à questão da saúde mental dentro de organizações.

Mas o que é ESG? 

ESG é uma sigla que surgiu no ano de 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. A sigla, que agrega os componentes ‘Environment‘ para o meio ambiente, ‘Social’ para as relações sociais, e ‘Governance‘ para a governança, é um resultado de um olhar comprometido para a sustentabilidade por parte das empresas dentro de sua atuação. O movimento coloca critérios de impacto socioambiental e de regras sólidas de governança dentro do mundo corporativo, elevando os padrões com que estes fatores devem ser levados em consideração na condução dos negócios.

Por que isso é importante?

O entendimento e aplicabilidade do ESG no Brasil e no mundo é cada vez mais relevante e tende a indicar mais solidez, reputação e compromisso social. Estes critérios estão também diretamente relacionados com as metas de desenvolvimento global da ONU, as ODS, e trazem para o centro do debate o papel das empresas no desenvolvimento sustentável.

Consumidores e investidores têm dado preferência a instituições que incorporam práticas sólidas de ESG em seus negócios. Um estudo realizado pela Ágora Investimentos mostrou que empresas preocupadas com essas questões tendem a se destacar em seus nichos, com vantagens competitivas, melhor reputação e maior lucratividade. Em meio à urgência de mudanças climáticas, soluções sustentáveis e crescentes demandas de responsabilidade social, a pauta do ESG está cada vez mais em alta, especialmente entre as gerações mais jovens que têm dado mais atenção à perspectiva de futuro e longevidade saudável. Esse movimento exige, de forma articulada, um compromisso por parte do setor privado.

O que a saúde mental tem a ver com ESG?

O processo de adoecimento no mundo do trabalho se acentuou ainda mais com a pandemia da Covid-19. Cargas horárias extensas, pressão psicológica, sobrecarga de tarefas, competitividade e responsabilidade financeira, impactos físicos e emocionais são alguns dos motivos que levaram mais de 47,3% de trabalhadores de serviços essenciais no Brasil ao esgotamento profissional e pessoal entre 2020 e 2021, segundo Dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Índices como estes têm despertado o entendimento de que questões associadas à saúde, ao social e ao ambiente têm grande impacto econômico, sobretudo na permanência de empresas no mercado e continuidade de investimentos. Pessoas adoecidas mentalmente fazem com que haja uma maior rotatividade de funcionários (turnover), menor produtividade e maior absenteísmo, o que impacta diretamente nos resultados finais de uma organização.

Por conta disso e pela necessidade de se olhar para os indivíduos como parte da responsabilidade socioambiental de uma empresa, há um tempo especialistas vêm colocando a saúde mental como um componente importante do “S” do ESG, já que este se relaciona com o bem-estar dos funcionários e preocupações com questões sociais da comunidade.

“Apesar de encaixarmos de forma bastante direta a saúde mental no ‘S’ do ESG, ela também está presente como parte indissociável dos outros componentes. Ela se relaciona com o meio ambiente quando percebemos que a poluição do ar e as mudanças climáticas foram classificadas como uma das maiores ameaças à saúde global, com sérios  impactos na saúde mental. Por outro lado, saúde mental também tem tudo a ver com o ‘G’, já que para trabalhar a saúde mental nas empresas não basta apenas que ofereçam atendimentos psicológicos aos seus funcionários, mas, sim que abordagens estruturais sejam adotadas, como a institucionalização da saúde mental nas práticas e governança, através, por exemplo, da criação de comitês e áreas específicas que olhem para o tema de forma transversal em toda a empresa”, salienta Maria Fernanda Quartiero, Diretora Presidente do Instituto Cactus, organização que atua na prevenção de doenças e promoção da saúde mental no Brasil, através da geração de conhecimento, identificação e multiplicação de boas práticas, colaboração em políticas públicas, articulação de ecossistemas e conscientização sobre o tema.

O olhar de forma estrutural para a saúde mental dentro das empresas e como parte fundamental do ESG é fundamental. De acordo com uma pesquisa do LifeWorks Mental Health Index, 76% dos entrevistados afirmaram que ter suporte à saúde mental é um diferencial na hora de deixar o emprego. O Relatório de Tendências, da Great Place to Work, revela que a saúde mental foi citada por 38% dos 1.700 respondentes como principal tema da gestão de pessoas em 2021.

Caminhos a se seguir 

Cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho não é só oferecer terapia e exercícios laborais. Cuidar da saúde mental no trabalho deve passar por um olhar que evite que o ambiente de trabalho seja um ambiente que adoeça e, por isso, precisamos institucionalizar o debate sobre saúde mental em todos os espaços (inclusive nas empresas), incorporando visões que trabalhem a  prevenção e a promoção da saúde mental no ambiente de trabalho.

Quando falamos em boas práticas para a saúde mental, podemos, então, pensar em uma diversidade de ações, como: iniciativas de diversidade e equidade, práticas de integração de equipe e momentos de convivência em grupos, atividades de formação e práticas corporais guiadas, canal de escuta e denúncia de abusos, plano de carreira, creches internas próximas ao local de trabalho etc.

“Investir em profissionais qualificados (como médicos e psicólogos); criar projetos de psicoeducação preventiva, com programas que contemplem o tema; incentivar rodas de conversas com profissionais para os funcionários falarem sobre as dificuldades do dia a dia e terem orientação sobre os sinais de alerta em termos de saúde mental, ao quais precisam se atentar; oferecer rede apoio, serviços de terapia online e criar condições saudáveis de trabalho, que estejam incorporadas às práticas de gestão e governança das empresas, são algumas ações importantes que precisam ser atribuídas pelas empresas como parte prioritária de suas políticas, visto que a atenção à saúde de forma integral não só é um investimento cujo retorno pode ser financeiramente positivo, mas principalmente porque o olhar para os indivíduos e sua saúde mental é pressuposto básico para uma sociedade mais saudável e inclusiva”, finaliza Luciana Barrancos, Gerente Geral do Instituto Cactus.




sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Pesquisa sobre teleconsulta mostram tendência e crescimento no setor

 


22/10/2021

Durante a pandemia do novo Coronavírus, a telemedicina foi altamente difundida e explorada pela necessidade. De acordo com uma pesquisa do G2 Learning Hub, a telemedicina cresceu cerca de 372%, de março de 2020 até setembro de 2021. Com isso, percebemos uma constante mudança no meio tradicional de consultas em que o presencial passou a não ser mais a primeira opção durante o período de crise sanitária global. Assim, o paciente digital se tornou uma pessoa mais focada na qualidade de vida e conforto, independente de onde esteja.

Com isso, a Pixeon, healthtech com soluções de softwares para a área da saúde e líder do mercado no Brasil, e o BoaConsulta, plataforma de agendamento de consultas, realizaram uma pesquisa com 179 entrevistados, onde o foco foi saber mais sobre a situação atual da telemedicina no país, experiências dos pacientes e de médicos, além de opiniões e oportunidades com a tecnologia do setor da saúde.

A teleconsulta traz diversos benefícios, tanto do ponto de vista dos médicos e das instituições de saúde, quanto do ponto de vista dos pacientes. Segundo a pesquisa, os três principais pontos para clínicas e profissionais de saúde são:

• Praticidade/mobilidade — 78%;
• Atendimento a regiões remotas — 68,9%;
• Menor risco de transmissão de doenças — 63,3%.

Já para os pacientes os três principais benefícios da telemedicina são:

• Praticidade/mobilidade — 81,7%;
• Menor risco de transmissão de doenças — 70,9%;
• Atendimento a regiões remotas — 65,7%.

Com esses dados, podemos destacar que o formato da teleconsulta proporciona um atendimento de fácil acesso, democratizando assim o acesso à saúde.

Mas, como acontece com toda nova tecnologia, a teleconsulta também tem seus desafios pela frente. A pesquisa apontou que, atualmente, para 55,9% dos respondentes a segurança de dados está entre os principais desafios. Porém, empresas da área já estão desenvolvendo recursos tecnológicos para atender a essas demandas específicas, garantindo segurança e eficiência ao processo. Embora nos grandes centros urbanos haja um crescimento do chamado paciente digital, uma grande parcela da população ainda tem dificuldades com a tecnologia. Esse é outro ponto desafiador da telemedicina: cerca de 55,9% dos respondentes relataram ter dificuldades com a tecnologia. Ainda que a telemedicina tenha muitas questões para enfrentar, a experiência com a consulta online foi vista como positiva por 54% dos entrevistados, sendo que apenas 2,9% relataram vivências negativas.

Mesmo em processo inicial, a telemedicina no Brasil demonstra um potencial grande de crescimento entre as instituições de saúde e, aproximadamente, 81,5% dos entrevistados acreditam que a tecnologia será uma prática mantida após o período de pandemia. Para isso, é cada vez mais necessário a adoção de ferramentas que otimizem os processos, facilitem as interações de médicos e pacientes e garantam o nível de proteção de informações que um atendimento médico necessita.

A Pixeon e o BoaConsulta se uniram para oferecer uma solução que atenda às necessidades específicas relacionadas à aplicação da teleconsulta. A plataforma vem sendo adotada com sucesso em todo o Brasil, proporcionando excelência na experiência do paciente e, consequentemente, retornando bons resultados para as instituições de saúde.


Transformação digital deve focar no paciente para gerar ganhos de eficiência e de qualidade

 


21/10/2021

Mesmo que os avanços tecnológicos tenham sido acelerados nos últimos anos, principalmente durante a pandemia de Covid-19, especialistas presentes no Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp) acreditam que ainda há um longo caminho a ser percorrido para a verdadeira transformação digital da Saúde.

Durante a palestra ‘Como acelerar a transformação digital e o uso de inteligência artificial em saúde no Brasil’, que contou com Antônio Marttos, cirurgião de trauma e atendimento na Universidade de Miami, Guilherme Salgado, CEO do grupo 3778, Miguel Lago, diretor-executivo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e Priscila Cruzatti, gerente de Inovação e Saúde Digital do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, moderada por Leandro Reis, vice-presidente médico e de serviços externos da Rede D’Or São Luiz, os participantes defenderam que apenas quando o paciente for colocado no centro do cuidado é que será possível trazer benefícios à assistência e à gestão da saúde pública e privada.

“Transformação digital não significa digitalizar processos que já existem, mas oferecer novas formas de se fazer, a partir do momento em que o mundo digital torna possível realizar as coisas de modos diferentes, como aconteceu com os bancos”, explica Priscila. Porém, para que o mesmo ocorra na saúde, ainda há diversas barreiras a serem superadas. “Primeiro, existe o desafio do comprometimento, tanto da alta liderança quanto dos profissionais de saúde. Depois, há uma preocupação em relação à qualidade dos dados coletados e à definição do escopo para uso da inteligência artificial. Por fim, ainda há a questão da privacidade e da segurança da informação, que impacta também no compartilhamento dos dados”, esclarece Salgado.

Quando se trata do Sistema Único de Saúde (SUS), Lago acredita que “a transformação digital é uma necessidade básica para a sobrevivência do sistema público. Diante do subfinanciamento do SUS, seria fundamental que ele se tornasse mais eficiente. Existem bons indícios para que isso aconteça, como o prontuário eletrônico unificado”, revela. Porém, de acordo com Lago, o prontuário eletrônico do cidadão ainda é muito limitado em termos de interoperabilidade do próprio sistema e com outros. “Além disso, os dados não são centrados no paciente. Para que consiga ganhar em eficiência e qualidade, precisamos ter processos que focam no paciente”, completa.

Quando superadas as adversidades, Marttos acredita que as inovações trazem diversos benefícios para as instituições, os médicos e os pacientes. “Vejo a tecnologia como uma forma de dar mais suporte aos profissionais de saúde, ajudar a prevenir erros, a detectar problemas precocemente e a ampliar o acesso aos pacientes, inclusive monitorando os casos crônicos em casa, intervindo quando necessário, e evitando que precise ir ao pronto-socorro. Vejo também como uma ferramenta que ajuda as instituições a terem controle de qualidade, a saber onde precisam atuar, reduzindo casos de infecções hospitalares, por exemplo”, opina.

Setor de saúde enfrenta dificuldade em converter dados em soluções

Com a aceleração da digitalização na Saúde, o volume de dados coletados cresceu exponencialmente. Ainda que as informações sejam fundamentais para as predições e investimentos em cuidados com a população, as empresas privadas e o governo enfrentam dificuldades em transformar o conhecimento em soluções. Na palestra ‘A importância da gestão da saúde baseada em dados e o desafio para construir uma base de informações qualificada e integrada’, do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), Vikram Kapur, sócio da Bain & Company, Rudi Rocha, professor associado da FGV EAESP e diretor de pesquisa do IEPS e Mohamed Parrini, CEO do Hospital Moinhos de Vento analisaram os cenários no Brasil e na Ásia e encontraram dificuldades semelhantes nas regiões.

Segundo Kapur, há desafios para coletar, compartilhar e traduzir dados, como a relutância das empresas em dividir informações, a falta de confiança em dados externos, o alto custo para prestadores reunirem informações internamente e as leis de proteção de dados. Para Rocha, somado a isso, “existe um gargalo de recursos humanos muito sério no Brasil. Uma coisa é gerar, armazenar e integrar base de dados, outra coisa é converter em conhecimento, em ação e solução. Não vejo o país formando profissionais suficientes para o mercado”, alerta.

Ainda que haja incerteza sobre a capacitação de profissionais, Rocha acredita que as inovações que surgem baseadas em dados e algoritmos podem gerar ganhos de eficiência para quem estiver bem-posicionado. “Nós temos muita capacidade instalada, sistemas de informação impressionantes em perspectivas internacionais, como DATASUS, mas ainda muito fragmentados entre os setores público e privado e muito deficientes de integração”, analisa.

Kapur ressalta, entretanto, que “sistemas complexos e separados fazem com que a jornada do paciente não seja determinada, o que leva a uma divisão limitada de incentivos econômicos e a uma baixa integração clínica. Consequentemente, a experiência do paciente é pobre, com pouca oportunidade de caminhar em direção ao modelo que o coloca no centro do cuidado”, explica.

O resultado vai na contramão da expectativa do usuário. De acordo com uma pesquisa apresentada por Kapur, um novo tipo de consumidor está emergindo, nos últimos 3-5 anos. Agora, o paciente está interessado em manter os cuidados com a saúde, espera ter conveniência no atendimento e realiza pesquisas online, para entender seus sintomas e tratamento. Além disso, também espera um aumento no uso de ferramentas digitais, mas quer que seja de modo unificado. “Cerca de 85% dos pacientes gostariam de ter um ponto único para gestão da saúde do início ao fim. Os usuários querem mais integração e querem navegar sozinhos pelas ferramentas. Mesmo com o aumento da digitalização, 2/3 ainda querem ter interação física com médicos, não querem ficar totalmente em ambiente online“, ressalta.

Desafios estruturais, conjunturais e comportamentais estão no caminho da gestão da saúde da população

Custos que crescem a cada ano, um sistema que necessita de mudanças e investimentos, beneficiários que não têm tratamento preventivo. O retrato atual do sistema de saúde brasileiro não é o ideal e discussões sobre o tema podem trazer soluções no cenário atual de incertezas. “Saúde é uma batalha que temos que ganhar”, disse a professora titular da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ana Maria Malik, que foi moderadora da palestra ‘Os desafios da gestão de saúde populacional’, realizada no Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp). A mesa, que também contou com Georgia Antony, especialista em Desenvolvimento Industrial do SESI, João Alceu, presidente da FenaSaúde e Martha Oliveira, diretora-executiva do Laços Saúde e Designing Saúde, colocou em discussão os complexos desafios enfrentados pelo brasileiro no acesso a saúde.

O presidente da FenaSaúde elegeu um ranking dos principais problemas enfrentados pela população brasileira no quesito saúde. “Contextualizo em três grandes grupos. O primeiro é das questões estruturais, falta de saneamento básico, água potável, energia e gás, educação de qualidade, habitação e desemprego. Depois, temos os desafios conjunturais, como a falta de informatização do SUS e a padronização dos prontuários eletrônicos. Por último, os desafios comportamentais, que são muito complicados, como o sedentarismo, tabagismo, abuso de álcool e hábitos alimentares dos beneficiários”, diz José Alceu.

Entre o sistema e o beneficiado, há também as empresas que arcam com muitos desses custos. Segundo dados apresentados por Georgia Antony, no Brasil, 56% do gasto com saúde vem de empresas privadas, isto é, com planos de saúde para seus funcionários e dependentes. “Quase 7 em cada 10 brasileiros têm plano de saúde por causa da empresa na qual trabalha”, revela. E esse gasto só aumenta, segundo a especialista, desde 2017 ele representa até 5 vezes o valor da inflação. Ela afirma ainda que, no Brasil, é perfeitamente possível que uma empresa que fabrique pneu gaste mais com plano de saúde de funcionários do que com borracha, por exemplo. Em concordância com o José Alceu, uma das prioridades apontadas pela especialista é a necessidade de informação.

Para Martha Oliveira, diretora-executiva do Laços Saúde e Designing Saúde, nós estamos passando por um processo de transição, que já deveríamos ter passado. “A batalha é que essa transição ocorra de forma melhor e progressiva. Dentro da saúde suplementar se eu pudesse hoje mudar uma única coisa, faria a coordenação de cuidado. Não fizemos transição do sistema de saúde, ele é exatamente o mesmo da década de 60, então formamos as pessoas da mesma forma, cuidamos da mesma forma. O que vem aí é um monte de tecnologia que a gente ainda não se apropriou, mas que fará uma quebra nisso, estamos falando de não cuidar da doença, mas cuidar do indivíduo”, afirma.

Os palestrantes concordaram que é preciso começar por soluções simples e que podem ter resultados grandes, como coordenar o cuidado nos atendimentos feitos no Brasil e estimular vínculos entre médicos e pacientes. Uma outra solução proposta foi a organização da entrada e saída de dados de forma eficiente em um sistema robusto de saúde no qual os envolvidos em cada parte do tratamento possam ter acesso.

Informações e inscrições: conahp.org.br/2021


InCor prepara testes clínicos da vacina em spray contra a Covid-19


 

21/10/2021

O InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) deu entrada nesta quinta-feira (21) no pedido de autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para início dos estudos clínicos fases I e II da vacina contra a Covid-19 administrada em spray nasal. O desenvolvimento brasileiro é inédito no mundo não apenas pela sua forma de administração pelas narinas, mas também pelos componentes derivados do vírus que ele utiliza para a imunização e pelo veículo que os transporta (nanopartículas).

As pesquisas experimentais realizadas até agora mostram que os animais imunizados com a vacina do InCor apresentam altos níveis de anticorpos IgA e IgG e também uma resposta celular protetora. “Estamos esperançosos nos resultados clínicos desta vacina em spray, pois todos os testes que nos propomos a fazer têm nos mostrados importantes conquistas no combate ao vírus”, diz o pesquisador chefe do estudo, Dr. Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do InCor e professor Titular da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP).

O objetivo é que os testes sejam iniciados em janeiro de 2022. O estudo contará com 280 participantes distribuídos em 7 grupos – seis deles tomarão doses diferentes entre si, para testar a melhor dosagem, e o último receberá apenas placebo . As duas primeiras fases dessa etapa clínica terão duração de até três meses e contemplarão a análise de segurança, a resposta imune e o esquema vacinal (dose) mais adequado.

O imunizante desenvolvido pelo Laboratório de Imunologia do InCor conta com a parceria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e das seguintes unidades da USP (Universidade de São Paulo): FM (Faculdade de Medicina), Instituto de Ciências Biomédica (ICB) e FCF (Faculdade de Ciências Farmacêuticas).

Kalil explica que o modelo em formato de spray de aspiração nasal visa combater o Sars-Cov-2 no local mais importante da infecção, as vias aéreas. “O vírus entra no organismo pelo nariz infectando a mucosa. O nosso foco é criar uma vacina que atue diretamente no sistema respiratório, fortalecendo a resposta imune de toda essa região, de forma a evitar a cadeia de infecção do indivíduo, desenvolvimento da doença e transmissão para outras pessoas”.

Diferente das vacinas atuais, que usam a proteína spike para induzir a resposta imune do organismo, a vacina do InCor utiliza peptídios sequenciais (biomoléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos) derivados de proteínas que compõe o vírus. Para fazer a administração pelas vias aéreas superiores, os pesquisadores desenvolveram uma formulação também inédita. A proteína vacinal é inserida em nanopartículas capazes de atravessar a barreira de cílios e muco presentes no nariz, chegando às células.

O mecanismo, diz Kalil, tem se mostrado capaz de aumentar o nível de imunoglobulinas A, anticorpos que são os grandes defensores das mucosas, e também potencializar a resposta celular local, elevando sua proteção.

“O Coronavírus vai persistir na sociedade. Sabe-se que as vacinas atualmente em uso não garantem a proteção por longos períodos, sendo necessário um reforço vacinal. Como a maioria da população brasileira está imunizada, iremos recrutar voluntários já vacinados contra Covid-19 e com isto poderemos analisar o efeito de potencializar a resposta imune”, esclarece.

O histórico da pesquisa

Kalil conta que logo no início da pandemia “resolvemos desenvolver uma vacina que fosse uma alternativa ao que estava sendo desenvolvido no exterior e que fosse um projeto essencialmente brasileiro com completa autonomia de ação. Graças ao financiamento do MCTI (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações), através da Rede Vírus, congregamos cientistas de nosso laboratório com larga experiência na área de vacinas (Edecio Cunha Neto, Keity Santos e Verônica Coelho), associados à Dra. Silvia Boscadin e o Dr Edison Durigon (ICB-USP), além do Dr. Marco Antônio Stephano, da FCF. Foi incorporada também no grupo a Dra. Daniela Santoro. Agora, na fase dos ensaios clínicos, contaremos com a ajuda do Dr. Pedro Giavina-Bianchi. Em volta destes pesquisadores no núcleo central do projeto, agregam-se hoje mais de 30 especialistas, entre cientistas sêniores e alunos de pós-doutorado e pós-graduação, que se dividem nas múltiplas tarefas do complexo desenvolvimento de uma nova vacina. Para chegar aos parâmetros de proteção contra a Covid-19 que balizaram o modelo da vacina, nós contamos com o estudo da resposta imune de proteção de 220 voluntários convalescentes da doença, ao longo do primeiro semestre de 2020.”