22/10/2021
A ênfase em olhar para o
ESG (Environmental,
Social and Governance) tem se tornado uma realidade cada vez mais
presente no Brasil. Para além de um olhar para o impacto socioambiental e para
o papel social das empresas no que diz respeito ao meio ambiente, às relações
sociais e à governança, a proposta também se conecta (e muito) à questão da
saúde mental dentro de organizações.
Mas o que é ESG?
ESG é uma sigla que surgiu
no ano de 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco
Mundial, chamada Who
Cares Wins. A sigla, que agrega os componentes ‘Environment‘ para o
meio ambiente, ‘Social’ para as relações sociais, e ‘Governance‘ para a
governança, é um resultado de um olhar comprometido para a sustentabilidade por
parte das empresas dentro de sua atuação. O movimento coloca critérios de
impacto socioambiental e de regras sólidas de governança dentro do mundo
corporativo, elevando os padrões com que estes fatores devem ser levados em
consideração na condução dos negócios.
Por que isso é importante?
O entendimento e
aplicabilidade do ESG no Brasil e no mundo é cada vez mais relevante e tende a
indicar mais solidez, reputação e compromisso social. Estes critérios estão
também diretamente relacionados com as metas de desenvolvimento global da ONU,
as ODS, e trazem para o centro do debate o papel das empresas no
desenvolvimento sustentável.
Consumidores e investidores
têm dado preferência a instituições que incorporam práticas sólidas de ESG em
seus negócios. Um estudo realizado pela Ágora Investimentos mostrou que
empresas preocupadas com essas questões tendem a se destacar em seus nichos,
com vantagens competitivas, melhor reputação e maior lucratividade. Em meio à
urgência de mudanças climáticas, soluções sustentáveis e crescentes demandas de
responsabilidade social, a pauta do ESG está cada vez mais em alta,
especialmente entre as gerações mais jovens que têm dado mais atenção à
perspectiva de futuro e longevidade saudável. Esse movimento exige, de forma
articulada, um compromisso por parte do setor privado.
O que a saúde mental tem a
ver com ESG?
O processo de adoecimento
no mundo do trabalho se acentuou ainda mais com a pandemia da Covid-19. Cargas
horárias extensas, pressão psicológica, sobrecarga de tarefas, competitividade
e responsabilidade financeira, impactos físicos e emocionais são alguns dos
motivos que levaram mais de 47,3% de trabalhadores de serviços essenciais no
Brasil ao esgotamento profissional e pessoal entre 2020 e 2021, segundo Dados
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Índices como estes têm
despertado o entendimento de que questões associadas à saúde, ao social e ao
ambiente têm grande impacto econômico, sobretudo na permanência de empresas no
mercado e continuidade de investimentos. Pessoas adoecidas mentalmente fazem
com que haja uma maior rotatividade de funcionários (turnover), menor
produtividade e maior absenteísmo, o que impacta diretamente nos resultados
finais de uma organização.
Por conta disso e pela
necessidade de se olhar para os indivíduos como parte da responsabilidade
socioambiental de uma empresa, há um tempo especialistas vêm colocando a saúde
mental como um componente importante do “S” do ESG, já que este se relaciona com
o bem-estar dos funcionários e preocupações com questões sociais da comunidade.
“Apesar de encaixarmos de
forma bastante direta a saúde mental no ‘S’ do ESG, ela também está presente
como parte indissociável dos outros componentes. Ela se relaciona com o meio
ambiente quando percebemos que a poluição do ar e as mudanças climáticas foram
classificadas como uma das maiores ameaças à saúde global, com sérios
impactos na saúde mental. Por outro lado, saúde mental também tem tudo a ver
com o ‘G’, já que para trabalhar a saúde mental nas empresas não basta apenas
que ofereçam atendimentos psicológicos aos seus funcionários, mas, sim que
abordagens estruturais sejam adotadas, como a institucionalização da saúde
mental nas práticas e governança, através, por exemplo, da criação de comitês e
áreas específicas que olhem para o tema de forma transversal em toda a
empresa”, salienta Maria Fernanda Quartiero, Diretora Presidente do Instituto
Cactus, organização que atua na prevenção de doenças e promoção da saúde mental
no Brasil, através da geração de conhecimento, identificação e multiplicação de
boas práticas, colaboração em políticas públicas, articulação de ecossistemas e
conscientização sobre o tema.
O olhar de forma estrutural
para a saúde mental dentro das empresas e como parte fundamental do ESG é
fundamental. De acordo com uma pesquisa do LifeWorks
Mental Health Index, 76% dos entrevistados afirmaram que ter
suporte à saúde mental é um diferencial na hora de deixar o emprego. O
Relatório de Tendências, da Great
Place to Work, revela que a saúde mental foi citada por 38% dos
1.700 respondentes como principal tema da gestão de pessoas em 2021.
Caminhos a se seguir
Cuidar da saúde mental no
ambiente de trabalho não é só oferecer terapia e exercícios laborais. Cuidar da
saúde mental no trabalho deve passar por um olhar que evite que o ambiente de
trabalho seja um ambiente que adoeça e, por isso, precisamos institucionalizar
o debate sobre saúde mental em todos os espaços (inclusive nas empresas),
incorporando visões que trabalhem a prevenção e a promoção da saúde
mental no ambiente de trabalho.
Quando falamos em boas
práticas para a saúde mental, podemos, então, pensar em uma diversidade de
ações, como: iniciativas de diversidade e equidade, práticas de integração de
equipe e momentos de convivência em grupos, atividades de formação e práticas
corporais guiadas, canal de escuta e denúncia de abusos, plano de carreira,
creches internas próximas ao local de trabalho etc.
“Investir em profissionais qualificados (como médicos e psicólogos); criar projetos de psicoeducação preventiva, com programas que contemplem o tema; incentivar rodas de conversas com profissionais para os funcionários falarem sobre as dificuldades do dia a dia e terem orientação sobre os sinais de alerta em termos de saúde mental, ao quais precisam se atentar; oferecer rede apoio, serviços de terapia online e criar condições saudáveis de trabalho, que estejam incorporadas às práticas de gestão e governança das empresas, são algumas ações importantes que precisam ser atribuídas pelas empresas como parte prioritária de suas políticas, visto que a atenção à saúde de forma integral não só é um investimento cujo retorno pode ser financeiramente positivo, mas principalmente porque o olhar para os indivíduos e sua saúde mental é pressuposto básico para uma sociedade mais saudável e inclusiva”, finaliza Luciana Barrancos, Gerente Geral do Instituto Cactus.
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