25/11/2021
A incidência global de câncer
deve atingir patamares recorde nos próximos anos, segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), apresentando uma evolução contínua que deve fazer com que em
2040 mais de 28 milhões de pessoas recebam o diagnóstico da doença – um aumento
de quase 50% em relação aos registros mundiais feitos em 2020, quando 18
milhões de novos casos foram detectados mundialmente. Atualmente, considerando
uma prevalência de 5 anos da doença, a entidade informa que mais de 50 milhões
de pessoas estão vivendo com Câncer em todo mundo, sendo que 1,5 milhão delas
está no Brasil. Por aqui, este ano outros 625 mil novos casos da doença serão
somados a essa equação em 2021, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Vale lembrar ainda que as neoplasias malignas já figuram entre
as principais causas de morte em mais de 200 países, o que exige das lideranças
governamentais e dos cidadãos de forma geral uma atenção aos cuidados com a
saúde, a partir da conscientização sobre hábitos de vida saudáveis e a detecção
precoce de tumores por meio de uma rotina de acompanhamento médico e exames. A
boa notícia é que aliada à ampliação de campanhas para conscientização sobre o
câncer, a ciência avança a passos largos no acesso à saúde e a tratamentos
avançados, com a chegada de drogas inovadoras e tratamentos que prometem
melhorar não só as chances de sobrevivência, mas também ao bem estar dos
pacientes.
“Alternativas de terapias cada vez mais personalizadas e
individualizadas fazem com que o câncer se aproxime cada vez mais de se tornar
uma doença considerada crônica, com benefícios efetivos à qualidade de vida de
pessoas com diagnóstico da doença”, aponta o oncologista Bruno Ferrari,
fundador e CEO do Grupo Oncoclínicas.
Para ele, o futuro do tratamento da doença é promissor, e
permitirá que cada vez mais pessoas tenham alternativas terapêuticas para muito
além da quimioterapia e radioterapia. “Temos novidades que têm se mostrado bem
sucedidas nos meio médico e científico, como a imunoterapia e o tratamento com
anticorpos monoclonais. O chamado CAR-T Cell também vem conquistando grande
espaço em casos de tumores hematológicos, um avanço que se mostra animador
quando nos referimos a em especial a leucemias e linfomas”, aponta.
O Dr. Bruno enfatiza que a produção de conhecimento na área da
oncologia no Brasil e no mundo passa por uma fase de crescimento incomparável.
Mas, mesmo sinalizando os próximos anos como positivos e de chegada de avanços,
lembra que há desafios no tocante às aprovações necessárias para adoção dos testes
moleculares e chegada de novas medicações, como também na garantia do acesso
igualitário à toda sociedade. Apesar da ressalva, o médico garante que há
motivos para comemorar e indica que a informação é ferramenta essencial para
assegurar o protagonismo a todos, pacientes ou não, em um momento de mudanças
nos paradigmas da doença.
Junto com o Dr. Bruno Ferrari, os oncologistas do Grupo
Oncoclínicas Clarissa Mathias, Carlos Barrios, Carlos Gil e Wellington Azevedo
esclarecem as principais perspectivas no combate ao câncer:
Análise genômica é palavra de
ordem
O avanço dos estudos envolvendo o genoma humano, código genético
presente nas células e de forma única em cada indivíduo, fez com que nos
últimos anos a análise dos genes se tornasse parte indispensável das áreas da
medicina. Dentro delas, a oncologia vem se beneficiando tanto na precisão
diagnóstica, quanto na eficácia do tratamento – ambas proporcionadas por essas
avaliações.
Segundo o Dr. Carlos Gil, exames que ajudam a detectar o perfil
molecular de tumores como de pulmão, intestino e melanoma têm se mostrado
importantes aliados no controle da condição.
“Esse tipo de teste proporciona maior precisão e melhor
qualidade no diagnóstico, o que é fundamental para uma definição precisa do
tratamento. Isso porque, apenas conhecendo com precisão as células malignas o profissional de saúde
conseguirá especificar o melhor tratamento para aquele caso”, comenta.
Individualização e
imunoterapia
O conhecimento cada vez maior de como as células cancerígenas
funcionam em cada tipo de organismo foi o avanço necessário para implementar
outros tratamentos que têm revolucionado a oncologia. O principal dele é a
imunoterapia, citada no Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2018.
Segundo o Dr. Bruno, ela é um tipo de tratamento biológico com o
objetivo de potencializar o sistema imunológico do indivíduo para combater o
câncer. “A prática terapêutica vem apresentando resultados muito significativos
para diversos tumores, especialmente mama, pulmão, colo de útero, endométrio,
melanoma e cânceres de cabeça e pescoço”.
Um exemplo é o câncer de mama triplo negativo, um subtipo
agressivo da doença que afeta principalmente mulheres jovens e representa,
segundo a Dr. Clarissa, cerca de 13% dos casos. “O uso da imunoterapia com quimioterapia
apresentou aumento significativo de resposta patológica completa – ou seja,
quando a doença desaparece após o uso de um medicamento o que é uma importante
evolução contra esse subtipo, normalmente associado a um prognóstico ruim por
causa de sua agressividade”, pontua a oncologista.
As terapias-alvo também se mostram cada vez mais eficazes e são
boa notícia para os próximos anos. Os testes com esses medicamentos têm
mostrado “resultados excelentes, principalmente para para tumores de mama e de
ovário”, frisa a Dra Clarissa, que também é a atual presidente da Sociedade
Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
O tratamento é feito com substâncias que foram desenvolvidas
para identificar e atacar características específicas das células cancerígenas,
bloqueando assim o crescimento do tumor e permitindo que o organismo do
paciente recupere as condições para derrotá-lo.
Anticorpos monoclonais: menos
toxicidade e maior efetividade
Um dos destaques, nesse sentido, são as terapias conjugadas de
quimioterapia com anticorpos, por exemplo, como ressalta o Dr. Carlos Barrios.
“O que acontece, nesses casos, é que a combinação vai levar a quimioterapia
diretamente para a célula cancerígena, focando o tratamento apenas nela, o que
diminui a toxicidade para o organismo, ao mesmo tempo que aumenta a efetividade
do tratamento”, diz.
Segundo ele, é importante frisar que, para alcançar bons
resultados com essas terapias, um fator é primordial: conhecer profundamente o
tipo de câncer e as características de cada paciente e cada célula, para
atingir a doença com mais precisão.
“É preciso estar equipado com tecnologia que identifique as
alterações genéticas com detalhes. Não são muitos locais que oferecem esse tipo
de tratamento”, afirma.
Para linfomas e leucemia, uma
alternativa de sucesso
Uma nova opção de tratamento para linfoma e leucemia, que vem
sendo estudada por meio da terapia genética, é a do CAR-T Cell, que usa células
do próprio pacientes geneticamente modificadas em laboratório para combater o
câncer. A estratégia consiste em habilitar células de defesa do corpo
(linfócitos T) com receptores capazes de reconhecer o tumor e atacá-lo de forma
contínua e específica.
O CAR-T cell é uma combinação de várias tecnologias, envolvendo
a terapia gênica, imunoterapia e terapia celular. Nos Estados Unidos e na
Europa já existem produtos comercialmente disponíveis.
O Dr. Wellington explica que o Brasil ainda está atrasado, em
função da indefinição da legislação que regula esse assunto. Mas, ele ressalta
que a Anvisa irá liberar em breve uma autorização que regulamenta o uso. “A
expectativa é que ainda em 2020 as indústrias farmacêuticas já sejam capazes de
registrar esses medicamentos no país”, complementa.
O alto custo para a produção preocupa, mas o avanço é inegável:
o tratamento conquistou popularidade no Brasil na segunda metade de 2019,
quando um paciente com linfoma não Hodgkins avançado do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, no interior de São Paulo,
foi considerado o primeiro paciente da América Latina a alcançar a remissão da
doença com uso das células CAR-T.
Para o Dr. Wellington, a estratégia usada para o tratamento abre
frentes para uso não só em tumores hematológicos, como o linfoma, podendo
possivelmente ser usada para qualquer tipo de câncer. “A metodologia já conta
com pesquisas voltadas a protocolos para leucemia mieloide aguda e mieloma
múltiplo. Há expectativas de que em um futuro próximo seja possível o uso do
CAR-T Cell em tumores sólidos, caso do câncer de pâncreas, apenas para citar
uma das possibilidades que já estão em discussão”, finaliza.
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