02/05/2022
Recentemente, completamos dois anos
desde que a lei que autoriza a prática de telemedicina no Brasil foi aprovada
pelo congresso. A legislação foi uma resposta à alta demanda por atendimentos à
distância, a fim de cumprir as orientações de distanciamento social impostas
pela pandemia do Covid-19. Mas, será que a telemedicina no Brasil continuará em
alta mesmo após a pandemia?
Com a crescente adoção do modelo entre os pacientes, médicos e
seguradoras de saúde, a demanda por serviços de telemedicina, que já
apresentava expressivo crescimento, certamente, continuará aumentando em 2022 e
nos anos seguintes. Segundo estudos recentes realizados pela Global Market
Insights, a telemedicina deve movimentar US$ 131 bilhões até 2025. O dado
reflete como este mercado segue em ascensão e se consolida como uma categoria
fundamental para todo o ecossistema da saúde, fomentando, inclusive, outros
setores que tenham relação direta com o uso de tecnologias neste segmento.
Diante deste cenário, relacionamos as seis principais tendências para a
telemedicina no Brasil, em 2022, a fim de salientar a importância dos
investimentos em tecnologias disruptivas para o desenvolvimento da área da
saúde.
1 – Aumento contínuo na demanda por
cobertura de telemedicina
Diante destas transformações, muitas
pessoas passaram a enxergar a telemedicina como uma primeira linha de cuidado,
com boa relação de custo x benefício para doenças de menor risco, bem como para
consultas de acompanhamento. Como resultado, em 2022, teremos empresas de
planos de saúde colaborando com provedores para ampliar o acesso a este modelo
de cuidado, aumentando, por exemplo, o investimento em tecnologias que sejam
necessárias para oferecer o suporte adequado às consultas, como plataformas
audiovisuais, sistemas para integração de prontuários, plataformas de receitas
digitais e ferramentas de suporte à decisão clínica.
1.
Incentivo aos
médicos e pacientes por meio do plano de saúde
As rápidas mudanças de hábito
provocadas pela pandemia continuarão em ritmo de crescimento após a crise e
ganharão a adoção predominante da sociedade. Neste sentido, à medida que os
programas de reembolso se expandem, os médicos serão incentivados a explorar
novas maneiras de utilizar a telemedicina para cuidar de quadros médicos mais
complexos (como diabetes), idosos com mais de 65 anos e aqueles que,
tradicionalmente, não têm fácil acesso a cuidados de saúde de qualidade.
Atualmente, os planos de saúde já
oferecem aos usuários, médicos e provedores de serviços alternativas para
consultas virtuais ou presenciais, a partir da rede assistencial, conforme
aponta a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
1.
Crescimento das
indústrias adjacentes da telemedicina
Conforme a demanda por telemedicina
cresce, o mesmo acontece com os periféricos e dispositivos necessários para
oferecer suporte a estes serviços. Plataformas de telemedicina e ferramentas
que transmitem os dados do paciente ao médico (in-home monitoring),
por exemplo, também se tornarão um grande negócio em um futuro próximo.
Além das consultas virtuais
individuais, entre médicos e pacientes, a telemedicina expandiu-se para modelos
diretos ao consumidor, como entrega em domicílio de prescrições e dispositivos
médicos de uso doméstico. Desta forma, a demanda dos pacientes também está
impulsionando o crescimento da telemedicina, uma vez que as instituições de
saúde buscam ampliar ou aprimorar, cada vez mais, os serviços de telemedicina,
com enfoque nas expectativas e na experiência do paciente.
1.
Maior integração de
Inteligência Artificial
Outra ferramenta que tem se destacado
e ganhado força nos mais diversos setores econômicos e sociais é a Inteligência
Artificial (IA). No setor de saúde, podemos imaginar, no futuro, a IA sendo
utilizada por médicos para elaborar planos de cuidado com base em vários data
points e projeções. Afinal, a IA pode contribuir na redução do potencial de
erro no atendimento ao paciente internado, agilizar a entrada de pacientes por
meio de chatbots, questionários de triagem iniciais e outras
ferramentas, reduzindo, assim, as filas de espera online e ajudando os médicos
a realizar a triagem dos pacientes com mais eficiência e agilidade.
1.
Necessidade de
maior diligência na segurança cibernética
No atual cenário tecnológico,
qualquer estratégia de telemedicina deve considerar a segurança cibernética. O
setor de saúde é um dos grandes alvos dos cibercriminosos, devido à grande
quantidade de dados sensíveis de pacientes coletados e armazenados. Neste
sentido, veremos, a partir de agora, um foco significativo em ações que tenham
como objetivo garantir a segurança dessas informações.
Em vigor no Brasil desde setembro de
2020, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) exerce exatamente a função de
proteger os dados pessoais e garantir que as empresas respeitem suas
determinações. Neste contexto, será cobrada uma responsabilidade ainda maior
das instituições de saúde com relação ao controle e a segurança dos dados dos
pacientes – incluindo dados em trânsito.
1.
Tecnologia de
suporte à decisão clínica otimiza as consultas via Telemedicina
A inovação e o aprendizado contínuo
são mais do que mandatórios neste momento. A medicina baseada em evidência e o
acesso a dados e informações confiáveis emergem como importantes agentes para
os próximos anos e auxiliam na otimização das consultas via telemedicina.
Além disso, a uniformização de
protocolos clínicos e a disseminação de conteúdos baseados em evidências entre
todos os profissionais é sempre um grande facilitador. Nesse contexto, é
importante oferecer nas consultas virtuais o suporte adequado para que o
profissional de saúde possa acessar conteúdos de qualidade e atualizados sobre
sua especialidade e outras informações que julgar necessárias, mas, sempre,
considerando a decisão diagnóstica de acordo com a expertise profissional.
A aceitação e a utilização da telemedicina foram aceleradas por necessidade, nos últimos anos. Entretanto, a tendência é que a crescente busca por consultas médicas virtuais siga aquecida e se desenvolva de forma orgânica nos próximos anos. Para que isso seja possível, é fundamental que o investimento em tecnologias como as citadas anteriormente seja proporcional à demanda apresentada pelo modelo de teleconsultas, garantindo um crescimento equivalente e o desenvolvimento simultâneo destes dois segmentos.
Natália Cabrini é Diretora de Estratégia de Mercado e Vendas, da Wolters Kluwer, Health para América Latina
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