19/09/2022
Nos últimos dois dias, o salão nobre
do Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, foi palco de uma discussão importante:
a prevenção ao suicídio. No encontro, foi promovida uma roda de conversa que
teve como tema “Os diferentes olhares sobre o atendimento a casos de tentativas
de suicídio”. O público presente foi recebido em um ambiente intimista,
preparado especialmente para sensibilizar os profissionais por meio da leitura
dramatizada de um depoimento sobre a depressão.
Nas linhas confessionais, o
sofrimento de 300 milhões de pessoas em todo o mundo foi relatado para mostrar
que a depressão é uma doença séria, que precisa ser tratada. A esquete,
apresentada pela assistente administrativa, Anna Beatriz Martins, serviu como
pano de fundo para uma troca de experiências que contou com a participação dos
médicos, Jayme Eduardo e José Carlos Baldelim Santiago Junior; a psicóloga
Jociane Gatto, coordenadora do setor de psicologia do Hospital; o enfermeiro
Rennan Basílio; a assistente da pastoral, Rosane Santa Rita e a cientista
social, Andrea Moreli.
“Falar é parte do caminho para a cura
e entrar no mundo de quem sofre é a melhor maneira de falarmos sobre o
assunto”, declarou a psicóloga, explicando que a intenção foi trazer para a
roda de conversa pessoas que tinham experiências diferentes relacionadas à
depressão e ao suicídio.
“Eu sou a prova viva de que falar
cura”, declarou Rosane Santa Rita no início de seu depoimento. “Quando falamos,
os sentimentos saem de dentro de nós. Tive muita dificuldade para aceitar que
estava doente. Achava que a depressão não podia me atingir até que os sintomas
foram piorando: medo, choro, falta de apetite, muito sono e dores profundas que
me traziam a sensação de infarto. Eu não entendia o que estava acontecendo até
que aceitei iniciar o tratamento”, lembrou a assistente da Pastoral.
“Ainda existe muito preconceito a
pacientes com quadros depressivos, mas não podemos desqualificar a dor do
outro. A doença mental não aparece nos exames, mas precisa de tratamento.
Precisamos acolher e conduzir o paciente de forma adequada. Quanto mais cedo
começamos o cuidado, mais chance de sucesso”, analisou Jociane, lembrando do
Protocolo de avaliação de risco de suicídio do HST.
Segundo o médico José Carlos
Baldelim, 70% dos adoecimentos mentais começam com traumas na infância: “É
preciso abordar o trauma, falar da dor, porque ela começa pequena, cresce e
devora a pessoa. A tentativa de suicídio é uma resposta mentirosa de um cérebro
doente. A chegada ao Pronto Atendimento pode ser o último grito de socorro, por
isso, é importante criar estratégias de condução e formar os profissionais para
que possamos ser anjos na vida dos outros”, afirmou, destacando que a ansiedade
e a depressão aumentam os riscos de desenvolvimento de outras doenças clínicas,
como a hipertensão e o câncer.
“Nós, como profissionais de Saúde,
precisamos ter muito cuidado com a abordagem aos pacientes com quadros de
doenças mentais porque não sabemos a realidade vivida por eles. Desenvolver a
escuta é muito importante, porque quando escutamos o paciente, conseguimos
fazer o encaminhamento adequado. Precisamos olhar para esses pacientes sem
julgamento”, comentou o enfermeiro Rennan Basílio, que também atua no
atendimento pré-hospitalar no SAMU.
A cientista social, Andrea Moreli,
que lançou recentemente o livro “Um dia podemos ser só lembranças – Suicídio e
pensamentos suicidas em estudantes de Medicina”, destacou a importância de
desmistificar o tabu sobre o suicídio. “Culturalmente, seguimos a lógica da
produtividade e não nos permite ter tempo de pedir ajuda. Precisamos quebrar
esse círculo cultural e aprender a olhar e ouvir as pessoas que estão no
entorno. É tempo de significar o que acontece conosco. Gente faz bem para
gente”, avaliou.
Para a técnica de enfermagem Daiana
Wepler o evento foi de grande valia: “É maravilhoso ver como somos
privilegiados em trabalhar em uma instituição que se preocupa não somente em
cuidar do paciente, mas também de todos nós colaboradores. É muito importante
nos cuidarmos para cuidar do outro e termos um olhar de cuidado um para com
outros”.
“De todos esses eventos que ocorrem
no ano, o mais difícil de gerar empatia na minha opinião é o Setembro Amarelo,
porque como a depressão é uma doença abstrata, as pessoas julgam de maneira
preconceituosa, dificultando a empatia. Precisamos expurgar esses preconceitos
para que possamos ajudar”, disse o supervisor de Hotelaria, Daniel Marinho de
Vasconcelos.
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