O paulistano Eduardo Kobra
fez dois grandes murais para doar ao Hospital das Clínicas de São Paulo, no
aniversário de São Paulo, 25 de janeiro. Desde o início da pandemia, o artista
reduziu o número de trabalhos e adiou 39 dos 40 convites que tinha para pintar
no Exterior. No Brasil, a maioria das obras foi relacionada à pandemia. Através
da arte, Kobra conscientiza sobre a necessidade de se vacinar e do uso de
máscaras e ajuda a levantar recursos para pessoas em situação vulnerável.
Agora, mais uma vez Kobra direciona seu olhar para a Saúde. Um
dos murais (“Metamorfoses”) ocupa uma imensa parede que começa no Espaço de
Convivência, no primeiro andar do Prédio dos Ambulatórios do Hospital das
Clínicas de São Paulo (onde está situada a Hematologia e a Fundação Pró-Sangue,
maior banco de sangue da América Latina, com 10 mil doadores por mês) e se
estende até o 8º e último andar. A obra está em processo final de produção e
deve estar finalizada até o final de janeiro. De acordo com o Dr. Vanderson
Rocha, presidente do Pró-Sangue e diretor do Serviço de Hematologia do HCFMUSP,
e que apresentou o espaço para o muralista, passam diariamente pelo local de 10
a 15 mil pessoas.
Segundo Kobra, o painel de 34 metros de altura por 7,5 de
largura mostra borboletas que saem da água, na base do mural, e vão até o alto
do prédio. “Coloquei o nome ‘Metamorfoses’ pensando nas pessoas que estão
doentes e precisam de esperança, fé e transformação para superar esse momento
difícil”, conta o artista urbano, que prossegue: “Resolvi doar o painel pelo
fato de o HC de São Paulo ser uma instituição pública que atende a milhares de
pessoas por dia. Pessoas físicas, entidades e empresas apoiaram o projeto, como
a Dionísio.Ag, que cuidou da logística do painel. De alguma forma acho que a arte
pode inspirar, atenuar o sofrimento e dar ânimo para seguir adiante às milhares
de pessoas que passam por ali todos os dias”.
O muralista conta ainda que pintou pedras preciosas nas asas de
algumas das borboletas, como uma lembrança de que cada vida é preciosa e que
devemos sempre lutar para preservá-la.
O segundo mural, finalizado na tarde de segunda-feira (24), fica
à rua Dr. Eneias de Carvalho Aguiar, 255, em São Paulo. Traz uma mensagem clara
e direta, na arte e no nome escolhido: “Ciência e Fé”. Com as cores que
caracterizam boa parte de suas obras, mostra as mãos de um médico, com o jaleco
e o estetoscópio, em posição de oração. “Esse painel pode ser visto por todas
as pessoas. Tem 20 metros de altura por 10 metros de largura. A obra mostra que
Ciência e Fé caminham lado a lado. Cada uma nos fornece algo que não se pode
obter a partir da outra. Acredito demais na Ciência e na Medicina e agradeço
aos médicos, enfermeiros e demais profissionais da Saúde que colocam suas vidas
à nossa disposição. Eu e a maioria dos brasileiros também colocamos nossa fé em
ação e o coração em Deus, para que ele abençoe nossas vidas, as vidas das
pessoas que amamos e também a Ciência, para que ela encontre a cura. Tanto a
Medicina quanto a Ciência nascem de uma única fonte: Deus! Então não existe
essa contradição, que tentam criar, entre as duas. Não há por que acreditar só
em uma ou na outra”.
O conhecido muralista brasileiro ressalta que ambos os murais
foram doados. “É um gesto em meu nome, mas também dos paulistanos e brasileiros
em geral para o Hospital das Clínicas de São Paulo, que faz um trabalho de
excelência. Eu mesmo, que tenho problemas graves de saúde, já fui
atendido muitas vezes e acompanhei de perto a determinação de todos ali. É uma
honra, um privilégio enorme poder, com o meu trabalho, retribuir tudo que esses
profissionais fazem por nós com sua incrível capacidade de se doar em benefício
do próximo”.
Espaço humanizado
O lugar de onde começa a obra “Metamorfoses”, de Eduardo Kobra,
era até há pouco um vão cinza no prédio dos ambulatórios (Pamb) do Hospital das
Clínicas de São Paulo. Conta o Dr. Vanderson Rocha: “estamos no térreo e o teto
ficou no andar da Hematologia. Um dia, quando eu e o arquiteto Luis Robles
andávamos pelo HC, achamos o prédio muito impessoal e frio e tivemos a ideia de
criar um espaço que trouxesse humanização e acolhimento dentro do Pamb. A
Crefisa, a Fundação Pró-Sangue e a Superintendência do Hospital das Clínicas de
São Paulo apoiaram essa ideia. Agora, com a arte magnífica que Eduardo Kobra
produziu e doou, esse espaço será ainda mais importante para os pacientes e
seus familiares, assim como para nossos funcionários. Esperamos também
que sirva de inspiração para que mais e mais pessoas contribuam com os projetos
e cotidiano do hospital. Provavelmente quem estiver no Espaço de Convivência
para doar sangue, por exemplo, e postar uma foto ou vídeo do mural
‘Metamorfoses’ nas Redes Sociais, inspirará mais pessoas a também se doarem em
prol de quem precisa”, afirma o Dr. Vanderson Rocha. “É preciso estimular as
doações. Durante a pandemia tivemos uma redução de cerca de 20% de doadores”,
completa.
O superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Antonio José Rodrigues
Pereira, destaca a importância dos murais de Kobra nesse período de pandemia.
“É com enorme prazer e profunda gratidão que recebemos estes dois presentes do
Kobra para o nosso complexo. Os profissionais da saúde do HC de São Paulo
foram, sem dúvida alguma, grandes guerreiros nestes últimos dois anos e ter
esse reconhecimento em forma de obra de arte, das mãos deste talentoso artista,
nos honra imensamente”, afirma. E acrescenta: “são obras que remetem à
resiliência dos nossos mais de 20 mil profissionais e, também, à ideia de que a
fé e a ciência não são exatamente dissociáveis. É a Ciência que nos permite ter
o conhecimento e as condições necessárias para salvar vidas, e é a fé que nos
dá motivação e forças para continuar mesmo diante das adversidades. Ambas se
complementam e foram fundamentais no enfrentamento à pandemia”.
Outras obras do artistas
realizadas no contexto da pandemia
Em 2021, o artista urbano fez o mural “Seja Luz”, mais uma obra
com o tema da pandemia do Covid-19. O mural de 30 metros de altura por sete
metros de largura fica na rua Oscar Freire, nos Jardins.
Segundo o artista, que no mural pintou “O Pensador”, de Auguste
Rodin (1840 a 1917), dentro de uma lâmpada, esse trágico momento de pandemia
deve levar a humanidade a repensar valores. “Cada um precisa refletir sobre que
tipo de entrega e atitude deve ter para ser luz na escuridão”, diz o muralista.
“Acima de tudo é preciso ser luz na vida de alguém e fazer a diferença. É
fundamental, mais que só ficar nas palavras e nas Redes Sociais, ouvir o outro,
pensar no outro e fazer o bem”, afirma.
Em maio deste ano, Kobra lançou em São Paulo, na rua Henrique
Schaumann, em frente à Igreja do Calvário, o mural “Coexistência – Memorial da
Fé por todas as vítimas do Covid-19”, onde retrata crianças de cinco religiões
– Islamismo, Budismo, Cristianismo, Judaísmo e Hinduísmo. A obra traz uma
mensagem de fé e de esperança, ao mesmo tempo em que lembra as vítimas do
Covid-19 e destaca a importância da Ciência, simbolizada pelo fundamental uso
de máscaras.
Pouco antes, na primeira ação do recém-criado Instituto Kobra,
que tem como base a premissa de que a arte é um instrumento de transformação, o
artista paulistano transformou um cilindro de oxigênio, em desuso, de 1,30m, em
uma obra de arte, exemplar único, chamada “Respirar”. Kobra pintou o cilindro
como se fosse um recipiente transparente, com uma árvore plantada dentro. “A
mensagem central é a importância da vida. Que o sopro da minha arte ajude a
levar um pouco de oxigênio para os hospitais mais necessitados e, ao mesmo
tempo, provoque a reflexão sobre a importância de usar máscaras, lavar as mãos
constantemente, manter o isolamento social e, claro, de preservar a natureza,
que é um patrimônio de toda a humanidade”, disse.
A obra foi adquirida por 700 mil reais. Os recursos obtidos com
a venda da peça foram aplicados integralmente na construção de duas usinas de
oxigênio no Amazonas. Na prática, isso significou que 20 leitos de UTIs
beneficiados 24h por dia, numa ação perene, que ficaram como legado. Em um dia,
a usina gera 480 horas de oxigênio. Em um mês, são 14.400 horas. “A título de
comparação, um cilindro abastece um leito de UTI com oxigênio por até 10 horas.
Ou seja, para fazer uma entrega equivalente à usina, seriam necessários mais de
1.400 cilindros por mês. Com 700 mil conseguiríamos comprar 350 cilindros, o
que equivaleria a 3.500 horas”, contou o muralista.
Em fevereiro de 2021, Kobra doou ao Instituto Butantan e à
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) dois painéis (um para cada instituição) de um
metro e oitenta por um metro e oitenta, que fez meses antes, inspirado na
esperança do desenvolvimento de vacinas para imunizar as pessoas contra o
Covid-19.
A Mão de Deus
Em novembro de 2020, o artista urbano entregou o mural “A Mão de
Deus” na região do Minhocão, em São Paulo. O trabalho tem 33 metros de altura
por sete metros de largura, na empena de um prédio situado à rua Traipu. De
acordo com o artista, é a mais autobiográfica de todas as suas obras e, ao
mesmo tempo, é uma obra que fala de todos. “O mural é inspirado em um momento
muito difícil para mim, que começou a ser superado quando senti a mão de Deus.
Foi algo que me ajudou e que me ampara até hoje”, diz.
Kobra afirma que o mural, é particular, mas também universal.
“Serve para todas as pessoas, de qualquer fé, que passam por dificuldades como
depressão, solidão, dificuldades econômicas, bebidas e drogas”. E complementa:
“espero que nesses tempos de pandemia e mesmo depois que tudo isso terminar, o
mural também inspire as pessoas a resgatarem a bondade e serem mais acolhedoras
e solidárias uma com as outras”.
Também ao final de 2020, como uma ode à vida durante a pandemia,
Kobra pintou na altura do km 44 da rodovia Presidente Castelo Branco, em São
Paulo, o mural “A Linha da Vida”, de 600 metros quadrados. A obra traz oito
personagens. Começa com uma criança e termina com uma senhora de cerca de 80
anos de idade.
Ainda em 2020, Kobra utilizou seu talento para uma campanha que
ajudava famílias desassistidas, com situação de vulnerabilidade ainda mais
agravada pela pandemia do Covid-19. Fez o painel “Coexistência”, onde mostrava
crianças de cinco religiões – budismo, cristianismo, islamismo judaísmo e
hinduísmo – em oração e vestindo máscaras. Uma Serigrafia da obra foi sorteada
entre as pessoas que fizeram doações. Com o valor arrecadado, R$ 450 mil, foram
produzidos e distribuídos 20 mil kits.
Pouco depois, com o
leilão da tela “Ao Líbano com Carinho”, conseguiu arrecadar 50 mil dólares para
as vítimas da explosão ocorrida na zona portuária de Beirute, capital libanesa.
“A obra mostra duas mãos, que simbolizam as mãos da humanidade, levantando o
cedro do Líbano, que é um símbolo de paz, de fraternidade, de união e
respeito”, disse o artista, que utilizou a bandeira do Líbano como a base para
a pintura. “O vermelho representa o sangue derramado pelas pessoas que se
feriram ou morreram nas lutas para livrar o país das forças externas; o branco
representa a permanente busca pela paz e a beleza das montanhas cobertas pela
neve; e o cedro, árvore presente em boa parte do país, é um símbolo de força e
eternidade"
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