18/01/2022
Três dos principais tipos de
câncer em incidência – mama, próstata e colorretal – têm em comum questões
hereditárias importantes. No câncer de mama, por exemplo, 10% dos casos possuem
causas hereditárias. Dentro de um universo de 69 mil diagnósticos anuais no
país, significa que quase 7 mil mulheres com câncer de mama têm uma causa
genética de base. No Centro de Oncologia Campinas, o geneticista Pablo Domingos
Rodrigues De Nicola responde por uma especialidade fundamental na prevenção,
diagnóstico e tratamento do câncer, a oncogenética.
Assim como o câncer de mama, cerca de 10% dos tumores de
próstata têm componente genético por trás – dados do Instituto Nacional de
Câncer (Inca) apontam para 65.840 novos casos a cada ano no Brasil. No câncer
colorretal, cuja estimativa do Inca é de 41 mil novos casos anuais, de 3% a 5%
estão sujeitos fatores genéticos.
Entre suas muitas atribuições, a oncogenética permite
identificar pessoas com risco aumentado de desenvolver tumores cancerígenos, a
partir da história pessoal, de estudos de históricos familiares e de exames
genéticos. “Sabendo qual é a alteração genética, é possível estabelecer os
riscos dessa pessoa desenvolver câncer. Estabelecendo os riscos e os órgãos
vulneráveis, podemos montar um protocolo de vigilância, de rastreamento do
câncer, que permitirá detectar o tumor, caso ocorra, ainda na fase inicial”,
detalha Pablo De Nicola.
Outro aspecto importante, aponta, é a existência de tratamentos,
com remédios específicos, voltados aos indivíduos que apresentam alteração
genética. “Há uma oportunidade de tratamentos mais eficazes, com drogas de
última geração, específicas para indivíduos com alterações genéticas.” O
protocolo de rastreamento tem algumas diferenças no caso dos que apresentam
risco aumentado para a doença. “Enquanto uma pessoa da população geral faz uma
colonoscopia a partir dos 50 anos, e repete o exame a cada cinco anos, uma
pessoa com alteração genética inicia os exames aos 35 anos, e com intervalo de
dois anos”, exemplifica.
A detecção precoce de tumores cancerígenos afeta diretamente o
prognóstico. Quanto mais cedo a doença for identificada e tratada, melhores
serão as chances de cura e maior poderá ser a sobrevida do paciente. “Hoje
sabemos o quanto é importante ter um serviço de genética dentro de um Centro de
Referência em Oncologia”, observa.
Histórico
O câncer é definido como uma doença genética, resultado de
mutações no DNA das células. A existência de um histórico familiar pode apontar
para a predisposição de desenvolver neoplasias, porém, o perfil de risco é
traçado a partir de um complexo estudo familiar e de exames laboratoriais. Os
testes genéticos, explica Pablo De Nicola, são indicados em situações
específicas. “As pessoas que normalmente são encaminhadas para o teste genético
são aquelas que têm câncer em idade jovem e as que, ao fazermos o histórico
familiar para a doença, que é a árvore genealógica, percebemos a existência de
muitas outras pessoas com câncer na família”, confirma.
Para traçar a árvore genealógica, conta, são analisados parentes
até de terceiro grau. Tios, primos, sobrinhos, irmãos, netos, avós e pais
ajudam a montar o histórico de casos de câncer de uma família. Um número
significativo de ocorrências estabelece os níveis de risco para a doença.
A realização de testes genéticos, aconselha o médico, é positiva
não só por trazer benefícios à pessoa alvo da avaliação, mas também por ajudar
a mitigar os riscos de outros familiares e das próximas gerações.
“Existe, por exemplo, a possibilidade de diagnóstico
pré-implantacional. Na fertilização in vitro, o teste genético mostra quais são
os embriões que não apresentam alterações genéticas e que posteriormente podem
ser implantados. É também uma forma de cessar o ciclo de doença oncológica na
família”, orienta. “Outro fator importante é que, quando se faz o teste
genético, executamos depois o rastreamento dos familiares para saber se possuem
alteração genética. Dessa forma, podemos começar a fazer o rastreamento
preventivo de outras pessoas.”
O teste genético, salienta, não é exclusivo dos pacientes
oncológicos, embora eles sejam a maioria dos que procuram pelo atendimento. “O
geneticista é como se fosse um clínico com quem se faz um check-up. A grande
maioria, infelizmente, chega ao geneticista já com o câncer, mas quem tem histórico
familiar pode procurar o geneticista. Aqueles que apresentarem alterações
genéticas e risco aumentado poderão começar, assim, a fazer as prevenções
primária e secundária.” Os exames genéticos são feitos a partir de amostras de
sangue e demoram em média 30 dias para ficarem prontos.
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