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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Artigo – Soluções estruturais na saúde não podem esperar mais


 25/02/2022


Alguns desafios da saúde no Brasil ajudam a compreender que precisamos dar respostas mais rápidas e efetivas. Um estudo recente do DRG Brasil, por exemplo, analisou 4,4 milhões de altas hospitalares e descobriu que 53% das diárias consumidas no Brasil poderiam ser evitadas. Deste total, 56,12% aconteceram por permanência em excesso, 17,94% por ICSAP (Internação por Condição Sensível à Atenção Primária) e 13,64% por condições adquiridas graves, entre outros. A Planisa estimou essa possibilidade de economia em 2021 a partir do número de diárias no SUS e na saúde privada, com base em custos de diárias não críticas de 99 hospitais. O resultado foi R$ 39,7 bilhões somente no ano passado, sem contar os custos com diárias críticas (as UTIs).

Outro levantamento da Planisa avaliou as oportunidades de ganhos econômicos com a melhor utilização de leitos de internação e salas cirúrgicas no Brasil em 2021, sem considerar os leitos Covid-19. A conclusão foi R$ 17,5 bilhões de desperdícios em custos fixos (ociosidade), destaca-se, a utilização média de apenas 30% da capacidade operacional em 139 salas cirúrgicas analisadas.

Junto a isso, há o descompasso entre municípios, estados e governo federal, que consomem recursos sabidamente escassos em equipamentos de saúde ociosos e ineficientes; em hospitais normalmente de pequeno porte com baixas taxas de ocupação; a escalada da obesidade – a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) relatou que em 2016, 56% dos brasileiros eram obesos; 17,1% relataram problemas com consumo excessivo episódico de álcool em 2019, ante 5,9% em 2013; o envelhecimento da população;  a dificuldade em estabelecer organização da referência e contrarreferência permitindo que hospitais terciários de alto custo, projetados para assistência de alta complexidade,  continuem atendendo pacientes com resfriado, o subfinanciamento da saúde pública.

Também estão entre as situações desafiadoras o modelo de remuneração baseado no fee for service, que muda a passos lentos, mantendo no ringue as operadoras e os prestadores de saúde; a realização de exames desnecessários, o over use, por exemplo – se faz mais exames de ressonância magnética por pessoa no Brasil do que em outros países, enfim, apenas alguns pontos.

Tudo isso não é novidade e o setor tem excelentes técnicos especializados em gestão, além de empresas com know how, tecnologia e inovação. Mesmo assim, ainda é real a dificuldade para construir soluções estruturais robustas que são urgentes há tempos e, agora, definitivamente, não podem mais ser adiadas.

A pandemia trouxe à tona os problemas da saúde, as exigências se multiplicaram, a inovação e a tecnologia se tornaram ainda mais presentes e cada vez mais necessárias. Assim, é preciso gerar eficiência, transparência, integração e qualidade em todos os aspectos, organizando a jornada e colocando o paciente no centro do sistema, para ontem e, sem clichê, de verdade.

De modo geral, os players do setor sabem o que precisa ser feito, já existe um conjunto de alternativas e soluções que avançam tanto na esfera privada, quanto na pública, mas, na minha opinião, a maioria representada por ações conjunturais e não estruturais. Por isso, é importante romper os interesses incorporados e executar uma agenda de transformação para o país.

Marcelo Carnielo é administrador é diretor de Serviços da Planisa e especialista em gestão de custos hospitalares

 

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