15/02/2022
As chances de sucesso no
tratamento de fertilização in vitro (FIV)
podem estar associadas com a composição do microbioma do endométrio das
pacientes inférteis. As pacientes que apresentavam as bactérias Atopobium,
Bifidobacterium, Chryseobacterium, Gardnerella, Haemophilus, Klebsiella,
Neisseria, Staphylococcus e Streptococcus não conseguiram engravidar. Por sua
vez, as pacientes com microbioma dominado por Lactobacillus conseguiram
engravidar a longo prazo. A descoberta, liderada por pesquisadores da Fundação
Igenomix, foi publicada em janeiro na revista científica Microbiome.
Desde o início da pesquisa sobre o papel das bactérias no
sistema reprodutivo feminino, os autores já observavam piores desfechos
reprodutivos em pacientes inférteis com microbioma alterado. O objetivo então
foi determinar se a composição desse microbioma antes da transferência de
embriões nos tratamentos de Fertilização in vitro estava
associada aos desfechos reprodutivos dos nascidos vivos, gravidez bioquímica,
aborto clínico ou ausência de gravidez.
O estudo mostrou que as pacientes que apresentaram um perfil
alterado de microbioma endometrial não tiveram um desfecho positivo. Por outro
lado, aquelas que apresentaram um microbioma composto de Lactobacillus,
conseguiram engravidar. “Estes achados indicam que a composição do microbioma
endometrial antes da transferência de embriões é um biomarcador útil para
prever o resultado reprodutivo, oferecendo a oportunidade de melhorar ainda
mais as estratégias de diagnóstico e tratamento”, explica a bioquímica
Inmaculada Moreno, diretora da área de microbioma da Igenomix e primeira autora
da pesquisa.
Como o estudo foi feito –
Observacional prospectivo e multicêntrico, o estudo foi realizado em um total
de 342 pacientes inférteis de 13 clínicas na Europa, América e Ásia. Por meio
de sequenciamento de nova geração, foram analisadas as amostras endometriais
das pacientes. Ao analisar o rRNA 16S no fluido coletado e no tecido do
endométrio biopsiado antes da transferência embrionárias, revelou-se que o
desequilíbrio bacteriano levava a um pior resultado reprodutivo.
Especificamente, proporções aumentadas das bactérias Atopobium,
Bifidobacterium, Chryseobacterium, Gardnerella, Haemophilus, Klebsiella,
Neisseria, Estafilococos e Estreptococos obtiveram falhas nos resultados. Em
contrapartida, a presença dominante de bactérias Lactobacillus permitiu que as
pacientes, após realização do FIV, pudessem dar à luz a um recém-nascido. “Os
Lactobacillus podem ter ajudado a prevenir patógenos, aumentando a resistência,
mais que exercendo um benefício direto”, ressalta Inmaculada Moreno.
Histórico de contribuição
para a ciência – Estudos prévios, realizados pelo grupo de
pesquisa liderado por Inmaculada Moreno, já contribuíram em 2016 para a
comunidade científica o conhecimento sobre o microbioma endometrial das
mulheres, dando um passo adiante na melhoria dos tratamentos de reprodução
assistida. Além do diagnóstico de doenças que produzem infertilidade, como a
endometrite crônica derivada de uma infecção patogênica, os estudos permitiram
listar os tipos de bactérias que habitam o endométrio.
Referência:
Moreno I, Garcia-Grau I, Perez-Villaroya
D, Gonzalez-Monfort M, Bahçeci M, Barrionuevo MJ, Taguchi S, Puente E,
Dimattina M, Lim MW, Meneghini G, Aubuchon M, Leondires M, Izquierdo A,
Perez-Olgiati M, Chavez A, Seethram K, Bau D, Gomez C, Valbuena D, Vilella F,
Simon C. Endometrial microbiota composition is associated with reproductive
outcome in infertile patients. Microbiome. 2022 Jan 4;10(1):1.
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