21/10/2021
“Meu Deus doutor, eu estou vendo!” Esta foi a frase emocionada
que a dona de casa Sílvia Maria Bara de Oliveira, de 52 anos, disse assim que o
oftalmologista retirou o curativo de seu olho direito, um dia após ser
submetida a uma cirurgia de transplante de córnea. Bara foi a primeira paciente
a realizar o procedimento no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga (MG),
administrado pela Fundação São Francisco Xavier.
O
transplante de córnea de Sílvia realizado no último dia 15, marca um novo
capítulo na vida da dona de casa e dos moradores da região. “A cirurgia
consiste na substituição de um disco corneano doente por outro sadio de um
doador. Ela foi um sucesso. A paciente já está enxergando normalmente e precisa
agora manter o acompanhamento médico”, comenta Silas Machado Franco Júnior,
cirurgião oftalmologista da Fundação São Francisco Xavier, com atuação no
Hospital Márcio Cunha e responsável pela cirurgia.
“Estamos
muito felizes em poder proporcionar o que há de mais moderno em tecnologia de
ponta, know-how e
expertise de equipe médica para a realização de transplante de córnea. O
Hospital Márcio Cunha já é referência em várias áreas médicas e agora estende
sua atuação nessa área oftalmológica para uma população que tanto necessita. O
que a gente busca é investir no bem-estar das pessoas”, comenta o diretor de
hospitais da Fundação São Francisco Xavier, Dr. Mauro Oscar Soares de Souza
Lima.
Indicação
O
oftalmologista Silas explica que o transplante de córnea é um dos últimos
recursos e mais eficientes para tratar o ceratocone em estágio avançado, como
no caso da paciente Sílvia. “A córnea é a nossa primeira e mais externa lente
natural, sendo responsável por 2/3 da tarefa de focalizar a imagem. O
ceratocone é uma doença que afeta a córnea tornando-a mais pontiaguda e mais
fina que o normal. A estrutura fica curvada para fora do olho, semelhante a um
cone. Os tratamentos dependem da fase da doença. A Sílvia tinha um histórico
longo de perda de visão, com menos de 10% da visão no olho direito. O
transplante é o principal procedimento nestes casos”.
No
Brasil, mais de 150 mil pessoas são diagnosticadas com ceratocone anualmente. A
doença, de acordo com o médico, afeta mais adolescentes e indivíduos no início
da fase adulta. “Quanto mais cedo o ceratocone se apresenta, mais agressivo ele
é. Por isso, a importância de observamos as dificuldades visuais de nossos
filhos e levá-los a consultas oftalmológicas regulares com acompanhamento
anual. Em casos de suspeita da córnea com ceratocone, as visitas ao
especialista devem ser semestrais para a realização de exames complementares”,
orienta.
Mudança de vida
Para
Silvia o transplante de córnea foi um renascimento. “Eu nasci de novo, não
consigo nem descrever direito a minha felicidade. Depois da cirurgia eu queria
ver tudo ao meu redor. Mas confesso, o que me deixou ainda mais feliz foi ver a
alegria da minha família com o meu bem-estar”, ressalta.
“Eu
já havia feito um transplante em 2001 em Belo Horizonte e tive rejeição.
Daquela vez, quando tiraram o meu curativo, a minha visão ainda estava
embaçada. Desta vez não, eu consegui ver tudo: formas, cores, tamanhos”.
Sílvia
convive com o ceratocone desde criança e a doença foi progredindo com o tempo.
“Aos sete anos eu fui diagnosticada. Minha mãe me levou a um médico no Rio e
ele nos disse que eu ficaria cega. Eu cresci com muito temor disso”, lembra.
Para
corrigir o ceratocone, Sílvia começou usando óculos, daqueles de fundo de
garrafa, dito popularmente. Aos 13 anos, ela passou a usar lentes de contato,
mas com o tempo a lente começou a cair do olho e a visão foi piorando. “Eu me
casei aos 18 anos e já estava com a visão bastante comprometida. O meu maior
medo era não poder ver minhas filhas crescerem”, diz.
Sílvia
lembra que sofreu bullying quando
criança e preconceito na fase adulta. “As pessoas não sabem a dificuldade que
um deficiente visual tem para fazer as coisas. Consegui trabalho de doméstica,
serviços gerais e babá, mas acabei sem emprego e com receio de sair de casa”.
Quando
foi chamada para o transplante ela teve as esperanças renovadas. “Eu fiquei em
choque e com muito pensamento positivo. Eu havia sido escolhida mais uma vez.
Agradeço a Deus, ao Dr. Silas que me acolheu com muito carinho e
profissionalismo e acreditou que eu poderia voltar a enxergar. Mas agradeço em especial
ao doador, à sua família. A gente sabe que muitas vezes, na hora da dor é uma
decisão difícil, mas é uma benção para outras vidas”.
Silvia
ainda ensina. “Eu acho que a doação de órgãos e tecidos devia ser matéria desde
a primeira série na escola. Só assim, com muita campanha, que podemos mudar a
vida das pessoas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário