Apesar do Dia das Crianças estar se
aproximando e várias campanhas com foco no público infantil ganharem a mídia, a
preocupação com a saúde das crianças é algo sempre constante no cotidiano dos
pais e dos médicos. Quando se trata da realização de cirurgias pediátricas ou
outros tipos de intervenção médica, além de contar com o suporte da família e
de bons profissionais da saúde, também é importante saber explicar para as
crianças sobre o procedimento ao qual serão submetidas.
No entanto, ter essa conversa com as
crianças pode ser, muitas vezes, algo complicado, principalmente quando a saúde
delas está frágil ou a intervenção é difícil. É por isso que especialistas
recomendam o uso de recursos didáticos e lúdicos que colaboram com o
entendimento da criança, sem assustar, mentir ou omitir informações importantes
sobre a experiência que ela terá.
Pensando nisso, marcas e instituições
da área da saúde têm se preocupado cada vez mais com que os pequenos pacientes
entendam implantações e intervenções médicas. Um exemplo é o vídeo abaixo,
desenvolvido por uma sociedade de anestesiologistas portugueses (CAR – Clube de
Anestesia Regional/ESRA Portugal), que se vale de uma animação para explicar o
que é a Anestesiologia para crianças em idade escolar. Já aqui no Brasil, temos
o exemplo da LivaNova, empresa global de inovação médica, que produziu o vídeo
a seguir, também com desenhos animados, para explicar a cirurgia realizada para
a implantação da terapia VNS, indicada para pacientes diagnosticados com
epilepsia refratária, ou seja, pacientes resistentes a medicamentos e para os
quais a cirurgia cerebral não é recomendada.
O vídeo conta a história de Toni,
criança que sofre com epilepsia refratária, e que conta com a ajuda do Dr. Kid,
seu médico, e de Zinho, personagem que representa o dispositivo que será
implantado por meio da cirurgia e que é tratado como um super-herói. Assista
clicando no link: drive.google.com/file/d/1ghfTcSOH5vbzpxhxuQmq7RrTpeWiB7E_/view.
Epilepsia/terapia VNS em crianças
A epilepsia na infância é comum –
estima-se que a prevalência seja de aproximadamente 5 a cada 1000 crianças, com
maior frequência na faixa etária de 0 a 9 anos de idade. Pesquisas indicam que o tratamento adequado com drogas
antiepilépticas é um sucesso para aproximadamente 50% dos pacientes, podendo
chegar a índices de até 75%. No entanto, cerca de 20 a 30% dos casos podem ser
de difícil controle medicamentoso.
A professora Adriana Raquel Gomes
conta que seu filho Theodoro, de 12 anos, apresentou uma melhora significativa
após o implante da terapia VNS, tanto no controle parcial das convulsões quanto
em seu desenvolvimento cognitivo. E, durante todo o processo, o médico que os
acompanha no tratamento se valeu de recursos lúdicos para que Teodoro
compreendesse o funcionamento da terapia. “Toda vez que vamos ao consultório,
Teodoro usa uma blusa com a estampa da armadura do Homem de Ferro, porque o
médico o chama assim e faz uma analogia entre o aparelho da terapia VNS e o
coração do super-herói. Isso faz toda diferença, porque encoraja o paciente e
explica todo o procedimento de uma forma com que a criança consiga entender a
importância da terapia para a saúde dela”, relata a mãe.
Para a neurocirurgiã Alessandra de
Moura Lima, que realiza implantes da terapia VNS em pacientes pediátricos, a
utilização de materiais didáticos feitos especialmente para as crianças é
fundamental. “Às vezes é muito difícil explicar às crianças um procedimento
considerado complexo até para a maioria dos adultos. Materiais explicativos
produzidos e dirigidos especialmente para elas nos ajuda muito, e com certeza
deixa as crianças muito mais tranquilas, aceitando com maior naturalidade o
procedimento”.
Epilepsia
A epilepsia é uma condição
neurológica que afeta aproximadamente 1% da população. De acordo com a OMS,
aproximadamente 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de epilepsia, o
que a posiciona como uma das doenças neurológicas crônicas mais comuns no
planeta. No Brasil, estimativas variam de 2 a 3 milhões de pessoas. Ela ocorre
quando o cérebro não funciona corretamente e os neurônios produzem uma
atividade excessiva e anormal, causando as crises.
O tratamento da Epilepsia é feito com
uso de medicamentos, e em alguns casos são necessárias outras opções, como a
cirurgia ressectiva, neuromodulação (terapia VNS) e dieta cetogênica. Com o
tratamento medicamentoso correto, aproximadamente 70% das pessoas têm as suas
crises completamente controladas. A cirurgia quando bem indicada é possível,
consiste na retirada da região cerebral responsável pelas crises, desde que não
leve a consequências ao paciente.
No entanto, grande parte dos
pacientes que não respondem aos medicamentos também não são candidatos à
cirurgia ressectiva. “Pessoas com epilepsia refratária resistentes ao
tratamento têm grande impacto em suas vidas, seja na escola, trabalho, convívio
social. Também apresentam maior risco de traumas, queimaduras, necessitam de
tratamentos médicos frequentes, exames e até avaliações de emergência no
pronto-socorro. Por fim, também apresentam maior risco de morte, não apenas
pelas lesões que podem sofrer mas também devido a crises prolongadas, estado de
mal epiléptico e morte súbita”, explica o Dr. Lécio Figueira, neurologista do
Hospital das Clínicas de São Paulo e vice-presidente da ABE. Para muitos destes
casos, a neuromodulação seria uma opção.
“A neuromodulação através do implante
de estimulador do nervo vago (terapia VNS) é um tratamento aprovado há muito
tempo. Nos Estados Unidos isso aconteceu em 1997 e no Brasil em 2000. Trata-se
de uma opção segura e eficaz, que leva à redução na frequência e intensidade
das crises, além de outros ganhos, como melhora na recuperação após crise e até
mesmo no humor e comportamento. A melhora acontece de forma gradual após início
da estimulação”, afirma Dr. Lécio. “Aguardamos há algum tempo a
disponibilização desta alternativa no SUS, porque, para muitos dos nossos
pacientes, outras alternativas já foram esgotadas, e essa terapia poderá
melhorar sua qualidade de vida”.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Terapia VNS – Como funciona: A Terapia VNS usa um gerador, um pequeno aparelho
médico como um marca-passo, que através de um condutor envia impulsos elétricos
ao eletrodo ligado ao nervo vago esquerdo situado no pescoço, que por sua vez
envia impulsos para o cérebro, ajudando a prevenir as alterações elétricas que
causam as crises. O nervo vago é um grande elo de comunicação entre o corpo e o
cérebro, responsável por enviar impulsos às partes do cérebro.
Procedimento de implante da Terapia
VNS:
·
O procedimento da Terapia VNS não
envolve cirurgia cerebral
·
A cirurgia é geralmente realizada sob
anestesia geral, o que pode requerer uma curta estadia no hospital
·
Através de um pequeno corte o gerador
de pulso é implantado sob a pele abaixo da clavícula esquerda ou próximo da
axila esquerda
·
Um segundo pequeno corte é feito no
pescoço para fixar dois pequenos eletrodos ao nervo vago esquerdo. Os eletrodos
são ligados ao gerador por um condutor que fica embaixo da pele
·
Após a cirurgia, além das duas
pequenas cicatrizes devido às incisões, quase não se pode notar o gerador que
apresenta apenas uma leve elevação na pele do peito onde foi implantado
Além dos estímulos programados que o
aparelho realiza, é fornecido um ímã aos pacientes, o qual permite aos
pacientes ou cuidadores realizarem ativação do aparelho no momento que percebem
o início de uma crise. Por meio da estimulação adicional realizada é possível
parar ou diminuir a gravidade das crises epilépticas. A estimulação na hora da
crise é um benefício adicional da terapia de estimulação do nervo vago, com
objetivo de dar mais qualidade de vida aos pacientes e suas famílias.
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