No centro da turbulência provocada
pela maior crise de saúde do século, as empresas que operam no sistema
suplementar ao SUS (Sistema
Único de Saúde) – seguradoras
e planos de saúde – enfrentaram resultados financeiros ruins no
primeiro trimestre do ano, por causa do aumento dos custos com internações e
UTIs na chamada segunda onda da pandemia no país. Especialistas acreditam que
essa pressão sobre o sistema deve continuar por mais alguns meses, mesmo com o
avanço do ritmo das vacinações, pois, além do risco de nova onda de pandemia,
há o tratamento de eventuais sequelas das pessoas que já tiveram Covid-19 e o
retorno dos procedimentos eletivos que ficaram represados no ano passado.
“No primeiro trimestre de 2021, nós
registramos o maior custo assistencial da história do sistema. Enquanto o
Brasil superava 4 mil mortos por Covid a cada dia, os procedimentos eletivos
chegaram a superar o patamar de 2020 e de 2019, ocupando leitos e profissionais
de saúde e custos de assistência”, diz Vera Valente, diretora-executiva da
Fenasaúde, que representa as 15 maiores operadoras de planos de seguros saúde,
incluindo Bradesco Saúde, Amil e SulAmérica. Vera lembra que, no início da
pandemia, ocorreu redução de sinistralidade (relação entre os custos
assistenciais e as receitas do plano de saúde), com recuo de procedimentos
eletivos e menor utilização de serviços médicos e hospitalares. “Mas os custos
voltaram a subir consistentemente a partir de maio. Em novembro passado as
despesas das operadoras foram 13,4% mais altas que em fevereiro, mês anterior à
pandemia. Já as receitas cresceram bem menos no mesmo período: 4,6%.”
A Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), entidade
que representa 139 operadoras responsáveis pelo atendimento de mais de 20
milhões de beneficiários, confirma. “Agora em 2021 enfrentamos algo totalmente
novo, com impacto direto nos custos médicos. Pela primeira vez alcançamos
índices de ocupação hospitalares superiores a 100%. Soma-se a isso a inflação
derivada do aumento mundial do consumo de insumos, equipamentos de proteção
individual (EPI) e dispositivos e medicamentos”, informa Marcos Paulo Novais
Silva, superintendente executivo.
Enquanto administram as despesas crescentes, as companhias
observam a entrada de novos
usuários ao sistema. Dados do Instituto de Estudos de
Saúde Suplementar (IESS) mostram que houve alta de
2,2% no total de beneficiários de planos de saúde
médico-hospitalares no intervalo de 12 meses encerrado em abril. Com isso, o
setor passou a contar com 48,1
milhões brasileiros.
“O maior crescimento ainda é
registrado entre os planos coletivos empresariais, aqueles contratados pelas
companhias para seus colaboradores, mas também houve avanço entre as demais
categorias. Isso mostra dois movimentos. Por um lado, a economia nacional
voltou a apresentar novas vagas de trabalho, de outro, o brasileiro tem buscado
outras modalidades de contratação para se manter em um plano de saúde”, aponta
José Cechin, superintendente executivo do IESS.
Para o especialista, o receio em
função da pandemia de coronavírus pode ser um dos motivos do crescimento do
número de vínculos no país. “Se no início da crise sanitária registramos uma
queda do número de beneficiários por causa de demissões e perda de poder
aquisitivo, abril de 2021 foi o décimo mês consecutivo de crescimento do total
de segurados”, comenta. “Percebemos também o movimento das companhias do setor
em flexibilizar a contratação dos planos para garantir maior acesso aos
brasileiros”, completa. “Nossa atitude em relação aos clientes tem sido
negociar, flexibilizar as condições para manutenção do contrato e criar
soluções para a continuidade do cuidado, assegurando a qualidade dos nossos
serviços para influenciar sua retenção, como a ampliação do serviço de
telessaúde para todos os clientes em abril de 2020”, confirma Edvaldo Vieira,
CEO da Amil, que também passou a oferecer planos
de abrangência regional, com preços mais acessíveis.
A mesma estratégia tem sido adotada pela
Bradesco Saúde e pela SulAmérica, que já conta com 150 mil vidas seguradas em
planos regionais, chamados de SulAmérica Direto, em média 30% mais baratos que
os convênios tradicionais. Para chegar a esse valor, além da abrangência
limitada, o produto não oferece a possibilidade de reembolso e a rede de
atendimento é formada em um sistema de parceria.
“É um produto no qual eu me
emparceiro com a Rede D’or, com a DASA, com o Dr. Consulta, o Hospital Oswaldo
Cruz e outros prestadores e nos propomos a gerenciar o risco de uma forma
diferente, de forma que eles possam reduzir o seu preço, o que me permite fazer
um outro tipo de subscrição para oferecer um produto mais acessível”, explica
Ricardo Bottas, CEO da SulAmérica. Dentro dessa estratégia, a empresa comprou
no ano passado a Paraná Clínicas, em Curitiba, e a carteira da Santa Casa de
Ponta Grossa. Diante de cenário tão desafiador, as empresas lançaram mão de um
recurso que estava começando a ser utilizado e tornou-se referência durante a
pandemia: a telemedicina. Entre fevereiro de 2020 e janeiro deste ano, segundo
levantamento da FenaSaúde, foram realizados 2,6 milhões de atendimentos de telessaúde no país. Desde
total, 60% foram para urgências e 40% para casos eletivos, mostrando que o
atendimento online é uma solução inclusive para casos graves. Entre as associadas da Abramge, foram 2,8
milhões de teleconsultas entre abril de 2020 e abril de 2021, e o índice de
resolutividade foi de 90% das consultas a distância. Ou seja, de cada dez
pacientes, nove não precisaram de atendimento presencial.
Fonte: Forbes – 07/09/2021
Por Solange Guimarães
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