03
Oct. 2021
Desde o desenvolvimento e implementação emergencial das diversas
vacinas anti-SARS-CoV-2, coronavírus associado à pandêmica síndrome de
Covid-19, têm-se verificado a alta eficácia das estratégias vacinais em
populações aderentes à vacinação. Tais resultados têm superado as expectativas
iniciais e “premiou” o esforço mundial de combate a essa doença, a qual têm
resultado em altas taxas de morbidade e mortalidade em diferentes países.
Porém, os desafios continuam quanto às tentativas de vacinação de toda a população,
o que, se não ocorrer, pode significar longos futuros anos até a aquisição da
imunidade de rebanho.
Um dos pontos que resultam no prejuízo na adesão à vacinação por
um número significativo de indivíduos consiste nos efeitos adversos já
documentados após a vacinação anti-Covid-19. Muitos dos pacientes que se
recusam a tomar a vacina temem as manifestações pós-vacinais. Mas alguns
autores relembram que a ocorrência de efeitos adversos podem ser paradoxalmente
muito benéficos.
A causa dos efeitos adversos indesejados
Dentre as vacinas baseadas em mRNA, as
produzidas por AstraZeneca, Pfizer e Moderna têm recebido maior atenção quanto
aos efeitos adversos da vacinação, com ocorrência em torno de 60% dos pacientes
após a segunda dose vacinal. As manifestações clínicas mais comumente relatadas
incluem:
·
Cefaleia;
·
Febre;
·
Mialgia;
·
Náuseas e/ou vômitos;
·
Indisposição.
Os efeitos são geralmente leves a
moderados, transitórios e variam consideravelmente de acordo com a idade e
sexo, sendo mais proeminentes em mulheres e jovens. Porém, apesar da ampla
propaganda negativa, em diversos meios de comunicação, referente a ocorrência
dessas manifestações, esquece-se de divulgar os motivos pelos quais esses
efeitos têm sido observados. A maioria dos sintomas associados à vacinação
anti-Covid-19 é decorrente da produção exuberante da citocina interferon tipo I
(IFN-I) que desempenha um papel vital no desenvolvimento dos estágios iniciais
da resposta imune.
A IFN-I compreende a mistura de IFN-��,
múltiplos subtipos de IFN-�� e vários outros com
funcionalidade relacionada à IFN-III (IFN-��),
todos esses produzidos precocemente após o contato com os patógenos e com
efeitos antivirais potenciais sistêmicos (IFN-I) ou no sistema respiratório
(IFN-III). Tais ações suprimem a replicação viral local e impedem a
disseminação das partículas virais para outras células ou sistemas. A IFN-I é
produzido principalmente por macrófagos e células dendríticas, sendo ativado
por estruturas moleculares específicas de patógenos virais ou bacterianos,
denominadas pathogen-associated molecular patterns (PAMPs), às
quais interagem com receptores de reconhecimento padrão [pattern recognition
receptors (PRRs)] presentes em células dendríticas, e que incluem os
conhecidos receptores Toll-like (TLR) e receptores membros da
família do gene do ácido retinóico (RIG-I). As vacinas de mRNA anti-Covid-19
são reconhecidas por múltiplos PRRS, incluindo TLR7, TLR8 e TLR9, RIG-I e
proteína 5 associada a diferenciação de melanoma (MDA5).
Os receptores para IFN-I são expressos por todas as células
nucleadas e o contato com seus ligantes leva a uma série complexa de eventos
intracelulares decorrentes da transdução de sinal, resultando na produção de
uma variedade de citocinas e outros mediadores que antagonizam à progressão da
infecção. Adicionalmente, a IFN-I induz a ativação das células dendríticas e
permite a apresentação antigênica para células T CD4+ e CD8+ virgens, as quais,
quando ativadas estimulam a produção de anticorpos por linfócitos B, e a
diferenciação de células 8 em células citolíticas efetoras, respectivamente. Ao
estimular a ativação das células dendríticas, ocorre o consequente
aprimoramento da imunogenicidade por aumento da expressão de moléculas de
superfície co-estimuladoras da ativação de linfócitos T, promoção da expansão
clonal dessas células e a diferenciação de células T de memória (CD4+ e CD8+).
Portanto, a produção precoce de IFN-I é fundamental para a ocorrência de uma
resposta imune efetiva anti-Covid-19.
Mas a indução da produção de IFN-I não resulta na tempestade de
citocinas? A tempestade de citocinas consiste na produção exacerbada de
múltiplas citocinas e outros fatores inflamatórios resultando em descontrole
nos efeitos imunes no combate aos patógenos altamente patogênicos. Porém,
apesar da tempestade de citocinas ocorrer na Covid-19, já foi descrito que na
infecção por SARS-CoV-2 há supressão da produção de IFN-I resultando em em
níveis abaixo do normal, especialmente IFN-��. Os pacientes com Covid-19 grave, inclusive, apresentam altos
níveis anticorpos contra IFN-I, o que suporta a hipótese de que a gravidade da
doença está associada com o desbalanço de IFN-I durante os estágios iniciais da
infecção por SARS- CoV-2. A partir dessas evidências acumuladas, sugere-se inclusive
que a infusão de IFN-I exógena é eficaz quando administrada precocemente na
doença, e também profilaticamente, especialmente por via nasal. É importante
ressaltar que as vacinas mRNA codificam para a expressão seletiva unicamente da
espícula protéica de SARS-CoV-2 que não antagoniza com a produção de IFN-I.
Sabe-se que a administração de IFN-I exógena para o tratamento de
hepatites B e C, e esclerose múltipla leva aos mesmos sintomas
pós-vacinação anti-Covid-19, como febre, cefaléia e fadiga.
Conclusões
Portanto, é altamente provável que os efeitos adversos da vacinação com mRNA são consequências diretas de uma geração aguda de IFN-I que traduz (ou sinaliza) a ocorrência de uma resposta imune efetiva. Consequentemente, as manifestações pós-vacina são sinônimos evidentes do desenvolvimento concomitante de uma resposta adequada no combate à infecção pelo SARS-CoV-2 e espera-se a transitoriedade desses sintomas. Deve-se lembrar que a tolerância frente a essas adversidades pode substancialmente significar a proteção efetiva contra Covid-19 e suas formas graves. Os benefícios claramente superam os riscos. Maiores detalhes sobre essa discussão podem ser verificados nas referências abaixo.
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